TERRA DE DESDENTADOS

A palavra 'luta' já não quer dizer nada. O conceito 'luta de classes' também jaz morto e apodrece porque toda a gente forceja ou por ter classe [nas entrevistas, em discurso directo, Ronaldo tenta, apesar dos seus terríveis «Derivado a» e dos seus «No qual» deslocados de qualquer espécie de concordância na frase ou sentido, sequer] ou por galgar até ao próximo nível. No entanto, a fortuna de expressões brutais na luta política e económica tem aflorado ultimamente para traduzir muito pouco da realidade que importa: os sindicatos representam pouco e mal trabalhadores, precários, desempregados, pensionistas, porque se representam sobretudo a si mesmos. De repente, com o estilhaçar dos recursos públicos que almofadavam a vida de milhões de pessoas, caríssimo suporte ou segurança social, regressa-se ao trabalho, à necessidade do trabalho, e à suma verdade de cada qual ter de contar sobretudo consigo mesmo ou com o apoio de quem vive vocacionado para apoiar e dignificar a vida dos mais vulneráveis. Não vale a pena o estrelato blogosférico e mega-opinante vir com coisas e loisas. Partir os dentes aos sindicatos ou parti-los à 'reacção' não vale nem sequer como imagem. Tirando o anti-escol de uma cleptocracia nacional associada sofregamente aos principais partidos PS e PSD, que bem se amanhou ao longo das décadas de velhas e certas oportunidades, toda a gente é indigente, dependente, num País onde os desdentados alastram na sua impotência prudente e conformada. Só para dar um exemplo, quem vê ou imagina [é o mesmo!] Dias Loureiro a lavar placidamente os colhõezitos nas águas de Cabo Verde, vê o tamanhinho ético da pequena multidão de filhos da puta que nos levou a melhor.

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