A MOLHA QUE ME ESPERA
Nem pelo facto de ventar com'ó diabo ou de cair aguinha como Deus a dá me fará meter o rabo entre as pernas e ir de carro. É a pé que vou apanhar aquele metro em Santo Ovídio. Uma hora depois, após a saída de casa, mais rajada menos rajada, mais bátega menos bátega, estarei lá, a caminho do meu trabalho, o mais enxuto possível. Estas coisas estão perfeitamente definidas: há que enfrentar romanticamente os elementos com o meu corpo, entre o tédio da TV e largos minutos a cheirar a chuva, escolha-se o segundo. Saborear o odor do vento que evoca paisagens clássicas, ninfas, deusas, colunas, maresia, não é todos os dias. Assistir ao agónico oscilar das árvores enquanto eu passo incólume sob o meu milagroso guarda-chuva é o prazer dos prazeres. Se bem que hoje não me sinta lá muito católico com esta tosse, estas dores musculares, este catarro. Ando a comer mal. Talvez a comer merdas indevidas como forma de poupança estúpida. Não há-de ser nada. Nada que uma hora de caminho para lá e outra para cá não arrebitem.
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