A MOLHA QUE ME ESPERA

Nem pelo facto de ventar com'ó diabo ou de cair aguinha como Deus a dá me fará meter o rabo entre as pernas e ir de carro. É a pé que vou apanhar aquele metro em Santo Ovídio. Uma hora depois, após a saída de casa, mais rajada menos rajada, mais bátega menos bátega, estarei lá, a caminho do meu trabalho, o mais enxuto possível. Estas coisas estão perfeitamente definidas: há que enfrentar romanticamente os elementos com o meu corpo, entre o tédio da TV e largos minutos a cheirar a chuva, escolha-se o segundo. Saborear o odor do vento que evoca paisagens clássicas, ninfas, deusas, colunas, maresia, não é todos os dias. Assistir ao agónico oscilar das árvores enquanto eu passo incólume sob o meu milagroso guarda-chuva é o prazer dos prazeres. Se bem que hoje não me sinta lá muito católico com esta tosse, estas dores musculares, este catarro. Ando a comer mal. Talvez a comer merdas indevidas como forma de poupança estúpida. Não há-de ser nada. Nada que uma hora de caminho para lá e outra para cá não arrebitem.

Comments

Miguel said…
Também eu, quando era mais novo e fazia 1 hora por dia entre vinda e ida da escola, saboreava o odor do vento e da chuva. E o frio pela manhã? Adorava aquele frio, os campos todos branquinhos. Tenho saudades dessas manhãs.
Anonymous said…
Também sou professor, embora efectivo, mas moro a 5 minutos da Escola. São post como este e a sua impressionante Epistula que me fazem quase ter vergonha das minhas queixas e das minhas depressões pela estado a que chegou a nossa profissão.

Popular Posts