GALOPE CAVALAR DO GRANDE UNICÓRNIO BRANCO

Não escondo, nunca escondi, o que de Marinho e Pinto penso. Ele, como todos nós, tem horas. Mas o tom predominante é a irascibilidade e o tiro de pólvora seca. Hoje, o JN traz Marinho e logo com um título auspicioso e bloguesco Latrinas da Democracia, título infeliz, desde logo, ao induzir a ideia de que  democracia ter latrinas é pejorativo. Não é. É graças àquilo a que Marinho chama latrinas que a nossa democracia permanece à tona, apesar da inoperância amarela, da injustiça sistémica, e da covardia inconsequente e sequestrada do Poder Judicial pelo Poder Político em Portugal. Recorde-se a Marinho ser precisamente nosso problema essa escassez de latrinas na nossa escanzelada democracia para que se possa lavar e purgar. Ora, nesse artigo, entre os elogios à democracia e à liberdade de expressão, há em Marinho um problema de falta de encaixe. Custa-lhe que a nossa liberdade de o criticarmos no fundo se exerça, assim como a liberdade de divulgarmos compararmos comportamentos e factos. O problema da liberdade de expressão para Marinho é quando ela possa ser exercida de forma abusiva pelos outros contra si, mas não por si contra os outros. Basta lê-lo a transcorrer todos os limites visando Manuel António Pina e a ministra Paula Teixeira da Cruz, mas depois gritar aqui-d'el-rei perante as caixas de comentários de blogues e das edições online de órgãos de informação porque lhe não perdoam certas tendências, certa forma de claudicar na isenção e na independência. É como se Marinho e Pinto na opinião do próprio Marinho e Pinto nunca bolçasse toda a espécie de indignidades e ofensas contra outras pessoas e só as outras pessoas bolçassem iniquidades e ofensas contra si. Nada mais longe da verdade. O anonimato português defende-se de óbvias formas de represália num País com escasso emprego e se Marinho se queixa só prova que não tem mais que fazer senão atender ao que escrevam irrelevantes anónimos sem rosto. Do que, conclui-se, em razão do próprio narcisismo, Marinho só tem olhos para o que se vai escrevendo de si e contra si no Verbo Jurídico chamado In Verbis. Repare-se na forma como Marinho, cego de paixão pois notoriamente passional a adjectivar, apoda gente invisível, nula e irrelevante de «súcias de cobardes (eles conhecem-se uns aos outros e actuam em bando), predominantemente constituídas por magistrados e advogados, têm como passatempo preferido difamar as mais diversas pessoas, sobretudo eu próprio.» Mas será que Marinho não percebe que ler o que se pense e escreva sobre si é que é indevidamente passatempo preferido e é que está mal?! Repare-se como o Bastonário abre o Odre de Adjectivos e aí vai disto, novamente TIR sem travões, figura de Quijote com silhueta de Sancho Pança, contra os moinhos de vento dos blogues e dos comentaristas. É doloroso constatar o que Marinho, havendo tanto para fazer, garatuja: «Aí tenho sido alvo dos piores insultos e calúnias, algumas das quais logo são postas a circular na Internet com o intuito óbvio de ampliar a sua danosidade moral.», quando qualquer de nós não tinha reparado que o Bastonário era, por assim dizer, um S. Sebastião da crítica, cravejado de setas. O que é notável, sim, é o modo como ele nunca deixa ninguém sem resposta, embora diga o contrário: «Habitualmente não respondo a insultos, sejam anónimos, sejam os de jornalistas a soldo dos poderes que publicamente critico. Porém, a última boçalidade gerada no "In Verbis" é um texto onde me são imputados factos monstruosamente falsos. Porque se trata de factos, aqui fica o desmentido.» E lá se dedica, coitado, a desmentir coisas sem qualquer interesse comparadas com a sua amizade e parcialidade perante um consulado tão danoso e negrejante para Portugal como o socratista, coisa aliás, a única, que eu, nada anónimo, lhe não posso perdoar. Mas Marinho, que não insulta ninguém e faz um uso exemplar da sua liberdade de expressão, só poderia terminar em beleza: «Espero que o crápula autor das calúnias (ou qualquer outra pessoa) prove publicamente o contrário deste desmentido.» Como se alguém estivesse interessado em fazer o que ele vem fazendo contra aquela mulher proba de nome Paula Teixeira da Cruz. Não poderei concluir a minha análise e comentário a esse artigo de Marinho no JN sem sublinhar a sua nota final. Utópica, macerada e intransitável precisamente devido ao pendor partidarizante de advogados-dados-ao-estrelato, como Marinho, dados ao espavento e inconsequentes, como Marinho, não há nada a esperar da cidadania comutativa de Marinho: «Por mim, acredito que um dia palcos de boçalidade como o "In Verbis" se transformarão em espaços de cidadania onde, como nas velhas ágoras helénicas, Homens com nome e com cara debatam em liberdade, sem medos, sem preconceitos e, sobretudo, com dignidade tudo o que acharem importante para a vida da Polis.» Como certas figuras míticas e intangíveis, Marinho está para o debate e a clarificação seja do que for como o Unicórnio e o Pégaso estão para os desportos equestres. Não posso aplaudi-lo.

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