DO FADUNCHO AO FADO

Uma coisa notável, quanto a mim, tem sido constatar a extrema inteligência das nossas fadistas Mafalda Arnauth, Carminho, Ana Moura, e mais algumas notáveis compositoras, intérpretes. Brilhantes, extremamente inteligentes, repito, vividas, verdadeiras ensaístas da História, Filosofia, Arte do Fado, pensadoras acabadas e eloquentes, com aquela presença forte e fino marketing carismático, adaptadoras do Fado ao século XXI, dentro e fora de portas, mesmo na Diáspora Portuguesa, sempre ávida de Portugal e de Portugalidade. Durão Barroso veio dizer-nos que é pouco inteligente cortar no saber e na cultura, conforme tem sido dado a conhecer ser intenção do Governo Passos. Concordo com Durão, embora, como experiente Fugitivo, lhe seja fácil falar quando não ele tem de decidir no actual contexto de incerteza e risco absoluto. Pense-se que, no domínio da Cultura, os bens específicos, imateriais ou não, de cada país e as suas criações originais têm um universo de potenciação económica extraordinário, se houver capacidade e visão para aproveitá-lo. O Fado é um dos elementos nada desprezível desse nosso universo. Nem dramaturgos nem escritores verdadeiramente impactantes no Mundo, morto Saramago e amortecida, por exemplo, a brilhante saga mundial dos Madredeus, vemos a nossa afirmação e universalização actualmente tolhida e inexpressiva, incapaz de dar o devido salto para o mundo [no Brasil, por exemplo, é terrível constatar tanta distância e ignorância de Portugal e dos Portugueses, arrumados no dichote anacrónico e estereotipado cristalizado nalguma literatura datada como O Mulato, de Aluísio Azevedo, e isso tem de ser combatido por todos os meios e qualquer euro gasto nesse tipo de pontes será bem gasto]. Por isso, neste fim-de-semana o que está em causa não é somente o facto de o Fado passar [ou ainda não passar] a ser considerado património cultural imaterial da humanidade para a UNESCO, cujos representantes se reúnem em Bali, Indonésia. Em causa está o impacto referencial e a projecção desse elemento da nossa matriz cultural reconhecida e mesmo do nosso País, cujos tesouros intangíveis obteriam redobrado interesse [cultural e turístico] mundial, prontos cativar apaixonados cultores e consumidores. 

Comments

Anonymous said…
Durão Barroso, enquanto 1º Ministro, e na área da Cultura, arranjou um assessor que na prática funcionava como um ministro sombra para a área da cultura e cuja acção foi muito nefasta para a área do património. André Dourado de seu nome.
Essa "metodologia" foi aliás copiada por J. Sócrates.
Shame on both!

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