DA LEITURA AUTOFÁGICA DAS CAUSAS
É por estas e por outras que ainda me está atravessado o que de obsceno li em Sérgio Lavos acerca de António Borges: «Dizer-se que morreu um homem que lutou para que os salários baixassem é, simplesmente, não se fazer o mínimo esforço para o entender. E na verdade é simples, António Borges acreditava que só uma descida de salários podia evitar o disparar do desemprego. Podia estar errado, mas era nisto que acreditava. Com toda a certeza que Carvalho da Silva, ou Francisco Louçã, ou Tozé Seguro se indignariam se os acusassem de lutar para que o desemprego aumente. A acusação seria absurda. Quando estas pessoas defendem a subida dos salários mínimos (ou um mercado de trabalho mais rígido) não o defendem com o objectivo de que o desemprego aumente. Defendem-no porque acreditam que o desemprego não é (muito) influenciado por estas restrições legais. Da mesma forma, quando António Borges defendia que os salários deviam baixar, não o defendia porque quisesse que os salários baixassem. Na sua cabeça, esta era a melhor forma de evitar que o desemprego disparasse. Adicionalmente, na sua cabeça, o aumento do desemprego leva inevitavelmente a uma queda dos salários. Assim, ao defender uma maior flexibilidade salarial, pretendia apenas evitar os custos do desemprego.» Luís Aguiar-Conraria
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