BARRETO, VOZ DE CASSANDRA

A ler e reler. António Barreto, como Medina Carreira, fala a linguagem da iminente catástrofe plausível portuguesa. Ser escutado é outra coisa. Uma coisa minoritária num povo aflito consigo mesmo e embrutecido para sentir o destino colectivo como coisa sua, premente, digna de reflexão. Pena que boa parte da massa crítica do País esteja na diáspora e mesmo a sua portugalidade se vá dissolvendo progressivamente noutras grandes nações. Pena seja precisamente o refugo mais reles a improvisar governar-nos, atropelando e desrespeitando a fraca sociedade civil, coisa irrelevante, ultramanipulada e condicionada na mão de perigosas e irrecomendáveis figuras, num complexo e meticuloso trabalho pífio de contenção dos "danos" da escassa liberdade de opinião, prodigalizando desdém por quem escreve e por quem pensa fora do discurso socratino oficial: «A nossa prioridade é dar informação e instrumentos de conhecimento aos cidadãos. Aquilo que transmite informação faz homens e mulheres livres. E uma das lacunas de Portugal - por falta de hábito, de experiência, de cultura — é não ter cidadãos livres, informados, capazes de participarem de modo independente na vida pública.»

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