PÁ DE COVEIRAR
«Ver a justiça a ser avacalhada é uma coisa que me chateia, pá. Chateia-me, pá, ver o Ministro da Economia a chamar espiões aos juízes. Chateia-me, pá, ver o Pacheco Pereira a querer discutir escutas na praça pública. Chateia-me, pá, saber que há quem ponha escutas na rua porque não acredita na Justiça. Chateia-me, pá, saber que há quem avise suspeitos de que estão a ser escutados. Tudo isto, pá, me chateia profundamente, pá. Como dizia o Almirante Pinheiro de Azevedo, não gosto de ser sequestrado, pá. É uma coisa que me chateia! Mas o que vejo a decorrer é um verdadeiro sequestro colectivo. Em torno do caso Face Oculta, já foi sequestrada a honorabilidade das instituições democráticas: encontra-se detida em parte incerta. A confiança dos cidadãos na política e na justiça também desapareceu, e desconfia-se que tenha sido degolada num beco. Os direitos, liberdades e garantias estão sob resgate, e não há dinheiro para o pagar. Até a inteligência e o bom senso deram sumiço em 90% das cabecinhas pensantes que por aí andam a opinar. Desculpem-me, mas ainda não vale tudo no combate político. Não vale avacalhar as instituições basilares do Estado de Direito e da democracia, mesmo quando temos dúvidas sobre a qualidade do seu funcionamento. Não vale deitar fora o bebé com a água do banho. A política do quanto-pior-melhor leva-nos para o pior, não para o melhor. Isto que digo vale tanto para os socialistas empenhados em defender o seu líder como para os opositores empenhados em atingi-lo. Estão todos no seu direito, mas há limites. O povo é sereno, mas a paciência também tem limites. Não os queiramos testar.» Aparelho
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