OS JOELHOS DE MIROSLAV BLAZEVIC

Ao que parece, Miroslav Blazevic tem uma face dupla. Oculta só para nós. No discurso para dentro, mostra-se implacável e motivador, prometendo para hoje esmagar Portugal. No discurso para fora, revela aquela reverência quase brasileira por Portugal, «país encantador e extraordinário, país irmão»; diz Blazevic «uma das mais fortes equipas do mundo» e tal. Tremem-lhe os joelhos ou há um plano secreto que arrancará a ferros, a bem ou a mal, a passagem para a África do Sul?! Blazevic tem instintos chineses no âmbito da diplomacia. É irritadiço e o que é certo é que a Selecção Portuguesa definitivamente não está num spa. Os bósnios de um lado, cuspindo e escarrando, afiando as espadas a ver se nos devoram. E os espanhóis, fico a saber, do outro. De repente, tornou-se-lhes suculento pensarem em Portugal. Somos um país que está ajudar esses vizinhos a atravessarem a sua própria crise com um sorriso nos lábios, basta-lhes pensar no nosso escândalo, já com referências a Vara como a alguém de «duvidosa integridade» e ao primeiro-ministro, esse extraordinário falante de portunhol: «Algunos medios de comunicación insinuaron, sugirieron o airearon supuestos pasajes de aquellas conversaciones de Sócrates y Vara, en las que el primer ministro no salía bien parado». Enfim, não é novidade que a desgraça alheia consola e mitiga os próprios males: «Pero los diálogos entre el jefe de Gobierno y un ex político y banquero de dudosa integridad han servido para lanzar todo tipo de acusaciones». A escandaleira portuguesa está a ajudá-los a compreender, dentro daquela federação de nações, apesar de unidas sob a mesma Coroa, tão opostas e rivais entre si, que mesmo ao lado há um outro país, uma República abalada sob uma procela de corruptores, com características extraordinárias: «en un país donde las sospechas se transforman rápidamente en arma arrojadiza para desprestigiar al adversario.» Pelos olhos dos espanhóis poderemos começar a olhar-nos com uma nova complacência. Ou com uma nova vergonha.

Comments

Quint said…
"en un país donde las sospechas se transforman rápidamente en arma arrojadiza para desprestigiar al adversario.", abstrai-te do Sócrates e do Vara (os teus amores de estimação) e diz-me se não é verdade? No dia-a-dia, nas coisas mais miseráveis?
joshua said…
Espanha! França! Inglaterra. Vara e Sócrates eram pobres. Vieram do nada. Estes indivíduos ex-pobres saíram-nos melhor que a encomenda.
Quint said…
Não me respondeste, amigo ...
Já agora, França não que nem joga nada e até lá vai com a mão!
joshua said…
Mas, ó Tarantino, é a inveja um traço do povo português? É. É-o a gula? Também. O comprazimento com o desastre alheio? Indubitavelmente. Usar as fraquezas e as trapalhadas como argumento político tem sido prática de todos os partidos, especialmente dos estéreis PS e PSD, nas últimas décadas.

No entanto, Sócrates enlameou o conceito que o povo português possa fazer do exercício do Poder-Serviço. O Poder-pelo-Poder, coisa desmesurada e inumana, é uma criatura completamente socratina e não muita água benta que lhe possas aspergir.
Quint said…
Tens razão e não tens, meu amigo.
Ele, possivelmente, só exponenciou essas virtudes todas porque chegou onde chegou. Tivesse ele quedado os seus passos e ambição pelos Passos Perdidos ou pelos Paços do Concelho da Covilhã ou outro sítio qualquer e poderia estar a esta hora a fumar grossos charutos e a contar belas maquias na mesma.

Aqui radica uma das razões porque acho que insistir apenas em dizer apontando o dedo "é ele, é ele" não nos ajudará de muito; primeiro, porque removido aquele, outro traste se seguirá e se calhar pior, depois porque nós precisamos é de alavnacar uma enorme revolução interior que estanque este vazio que tem vindo a corroer cada um de nós. Uns mais que outros, é certo, mas onde páram a cidadania, o civismo, a ética, a verticalidade?

Conto-te um breve momento. Há dias uma das minhas filhas encontrou 10,00€ à porta do nosso prédio. Obviamente que ficou satisfeita. Pouco tempo depois, ligou à mãe a dizer que tinham afixado um bilhete no lugar de estilo do condomínio a pedir que quem tivesse encontrado os 10,00€ à entrada do prédio se os podia entregar. Telefonou dizendo que ia entregar o dinheiro à vizinha, embora se notasse na voz a tristeza de perder o que houvera encontrado.
Quando soube da história, fui à minha carteira e dei-lhe 10,00€.

É um exemplo comezinho e que não devia usar, se calhar, aqui mas que serve para explicar que tipo de valores precisamos urgentemente de reencontrar dentro de cada um de nós. Daí a minha discordância pontual contigo e com outras pessoas nalguns domínios.

E pelo exemplo que aqui te deixo, talvez compreendas (e sei que o compreenderás) porque me agastei com certo tipo de comportamento e palavras.
Anonymous said…
Demolidor meu caro!!!

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