A JUSTIÇA DE SÓCRATES NÃO DÓI
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As amizades não se discutem. Mas podem embaraçar com uma força devastadora. Os amigos de Hitler, de Al Capone, de Ahmadinejad não contam nem as amizades havidas interessam para o conjunto de distorções, violências e tiranias perpetrados pelas personagens referidas. Os padrões sim. E os padrões aqui, ao contrário do que possa atestar o Carlos, são sempre os mesmos em Godinho e nos vinculados a Godinho: negócios subterrâneos, lóbis económico-políticos, apoio económico em troca de favor político, posições de charneira na Banca para melhor movimentar influências e os milhões que custam todas as reeleições. Cumpre recordar que o conceito de Justiça, para Sócrates não dói. Nunca dói. Tudo se contorna. Lopes da Mota, por exemplo, deixou de aparecer nos jornais, permanecendo no entanto o problema. Não lhe doeu nada a ingerência no processo Freeport. Para Sócrates, Justiça, como os jornais e as TVs, é mais um departamento sob controlo. E é, para ele, como época de caça às lebres, evitando a caça grossa. As lebres são esses pobres jornalistas, criativos nas suas alegorias e leituras corrosivas. As lebres e as perdizes são afinal esses pobres jornalistas assediados pelo músculo do Poder e do Dinheiro. Quem persegue e intimida jornalistas por causa de palavras escritas e ideias expressas só pode conceber uma Justiça intimidatória que faz doer e empobrecer ainda mais o mais pobre e o mais fraco. Em Portugal não existe Justiça doa a quem doer. Há gente preservada do lado doloroso da Justiça e mesmo no Congresso Soviético de Espinho, foi o próprio Sócrates a colocar-se sob a alçada do voto popular como forma imediata de absolvição absoluta. A Operação Furacão não doeu nada. O caso Freeport continua indolor. As falcatruas do passado prescrevem e não torturam os culpados. Quando Sócrates fala em Justiça a doer, não é obviamente para levar a sério.
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