NERVOSA PESTILÊNCIA
Pedro Marques Lopes pertence àquele número de virgens que se insurgem contra a divulgação de escutas pelos meios de comunicação, quando a verdade é que escutas com conteúdo indiciador da prática de crimes só são divulgadas depois de terem sido dadas como inúteis para os processos em que estão envolvidas. PML não pode esconder-se como espécie de candidato a corporativo passos-coelhista. Ele, tal como o Daniel, resume o sistema tal como ele fede. Que ao menos certos jornais contornem as derivas partidário-dependentes que a suposta Justiça manifesta envergonhando tudo e todos, além do conceito ele-mesmo de justiça em que ninguém acredita: Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento estão, tal como o País, em maus lençóis. Sempre defendi que as violações do segredo de Justiça têm sido o último recurso quando ela não se faz ao mais alto nível. As regras institucionais têm servido cinicamente os propósitos sôfregos do poder a todo o transe por parte da pequena clique socratista, marrando a verdade quando ela expõe o descrédito e a indecência dos respectivos actores políticos. Os escândalos que envolvem o Príncipe das Trevas nunca, até ao momento, viram provada a sua inteira inocência ou a sua inteira e culpável imputabilidade. Nada pior. É a pestilência a clamar por mudança grossa, de gente e de Regime, onde todos pactuam demasiado com todos nos seu pior. Pedro Lomba não cede no seu ponto habitual – todos falam da forma, das regras, dos procedimentos processuais, mas dos factos, da substância, do escândalo e do enredo propriamente ditos isso não interessa para nada, não aconteceram, foi tudo uma invenção. Foge-se do fundo do problema. Fica-se só pela secretaria e pela impunidade. Ora, não fora dar-se a ruptura com o segredo, a corrupção grassaria fora do nosso olhar censório, amplificando a degradação. Ao menos que ela se patenteie. Nada resolve matar-se o mensageiro. A loucura, tal como a ignorância, é uma qualidade atrevida.
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