PONTO CARAMELO-CARICATURA
O Carlos Barbosa de Oliveira, socialista evidentemente perturbado com o Tsunami informativo que varre um certo PS manobrista, voluntarista e excessivo, arremedou paletes de citações para provar um ponto óbvio: é impossível que regresse a censura liminar que vigorou no passado salazarento. A censura, hoje, é uma outra coisa. Mais subtil. Sofisticou-se. O Carlos e os por ele citados esquecem que os empregados da opinião, os funcionários da investigação e da notícia que desagradem aos respectivos patrões da opinião, patrões da investigação e da notícia, apenas por navegarem por matérias nunca d'antes devassadas, tais funcionários e empregados poderão sofrer represálias, caso tais patrões sejam devedores de favores perante um Poder Imoral pois Imoderado. Esse Poder Imoral porque Imoderado não é ficção. Tem sido um facto. É disso que nós, estúpidos extrapoladores, andamos a falar há cinco anos. De assédio à independência. De represálias! De respeitinho! De escrúpulos induzidos! Por que distorce e confunde o Carlos de tal modo as coisas ao ponto caramelo-caricatura?
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Na Refer, CP, Carris, Estradas de Portugal (lembremo-nos: tudo começou com desvios de sucata) estão em causa pequenas máfias internas. Uma pesagem errada, um carregamento que desaparece, uma cancela que se abre de olhos fechados. Uma orquestra de pequenos larápios que as administrações não desactivaram.
Na EDP, está envolvido um administrador de uma participada imobiliária, que já foi discretamente saneado. É na REN, BCP e PT que estão envolvidos administradores de topo: José Penedos, Armando Vara, Rui Pedro Soares e Soares Carneiro. Todos de carreira política.
Na REN, Penedos suspendeu o mandato e a empresa prossegue, sob a competente batuta de Rui Cartaxo. No BCP, Vara está suspenso sem tensão na administração: Santos Ferreira e Paulo Macedo, os administradores que já se pronunciaram sobre o assunto, foram até solidários com Vara.
É na PT que as suspeitas da "Face Oculta" chegam mais alto na hierarquia. E é lá que essa hierarquia não dobra nem a língua nem a coluna: assumindo-se "encornado" por dois administradores, Henrique Granadeiro está a deixar claro que o que se passou na PT foi uma traição. A empresa foi usada.
Granadeiro já uma vez acusou Fernando Soares Carneiro de "quebra de confiança", quando este "desviou" sem autorização dinheiro de fundos da PT para fundos da Ongoing. Falou de "terrorismo" quando actas da PT foram publicadas no diário da Ongoing. E convidou Soares Carneiro a demitir-se, gesto de decência que o alapado administrador ignorou.
É agora a vez de a Rui Pedro Soares ser apontada a porta de saída. Como já se percebeu, o país está a ficar cheio de pessoas que nem obviamente se demitem. Por isso Henrique Granadeiro tem de ser mais consequente.
Granadeiro já uma vez deu um murro na mesa - e não chegou. Agora, usando os seus termos, tem de dar um murro nos cornos. Este clã Soares tem de sair da PT, ou pelo seu pé, ou ao pontapé. Se estas duas demissões não acontecerem, outra tem de suceder: a do próprio Granadeiro. Se as suas palavras não valem nada, então "chairman" tem de mudar para "shelfman": é uma prateleira.
Henrique Granadeiro e Zeinal Bava podem não gostar de remar ao mesmo ritmo, mas estão juntos no mesmo barco. A ser verdade o que está publicado, foram ambos "encornados", enganados pelos administradores executivos que o Estado lá infiltrou, que congeminaram intentos políticos, usaram os seus presidentes, até lhes tiraram "o sonho", como é dito.
Está hoje documentado o que se insinuava: a PT tem intrusos políticos e accionistas que vivem bem com isso ou até muito bem à custa disso. Estão hoje todos calados.
Alguém acredita hoje que o Governo não teve mesmo nada a ver com o chumbo da OPA da Sonae? É curioso, aliás, ver as fotos que o Negócios hoje publica desse crucial dia, em que em assembleia geral a PT aniquila a OPA. Está lá toda a gente: dos que servem a empresa aos que se servem dela. No segundo seguinte à vitória, muitos subiram ao palco da administração de Granadeiro e Zeinal Bava para passarem a fazer parte da "equipa dos vitoriosos". Soubemos então que ganharam. Sabemos agora o que ganharam.