SINAIS DE FLATO
Não sei por que se persiste em chamar entrevistas a monólogos monolíticos com a criatura duplipensante ainda em funções executivas. Miguel Sousa Tavares, no seu Sinais de Flato, não entrevistou. Foi encostado à passividade de um mero espectador ante o aluvião de propaganda do PM, como qualquer português encostado ao sofá, quando ela passa. Comparar o desempenho económico português, no défice e na dívida, com os desempenhos e índices de qualquer dos demais países ricos da Europa é no mínimo sádico, dada a desproporção dos respectivos níveis de vida. Invocar desconhecimento da tramóia pré-eleitoral com Figo e com os media começou por ser o velho exercício zen, tão típico no Primadonna, de fingir tão completamente que chega a acreditar ser verdade a mentira com que deveras mente. Invocar o Primadonna hoje as leituras e despachos do «senhor PGR», para se ilibar como mentor e alma mater do «Plano», corresponde exactamente à convocatória do Rato Mickey, cuja seriedade todos atestam naturalmente. Isto é assim, pelo menos, para quem anda informado. Enfatize-se, porém, que ele não fala para quem lê jornais ou anda informado. Fala para clientelas e criaturas crédulas e simplórias. Conhece e explora bem o lado torvo do povo que apascenta. Pode armar-se em postiço guardião da Lei e em pífio regulador do Estado de Direito sem espinhas. E ai de quem lhe negue o tal Estado de Direito, i.e., à medida das suas-dele necessidades e conveniências.
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