PRESOS PELO ESTÔMAGO
«Não vejo no PS uma dinâmica global para forçarem Sócrates a abandonar as funções que exerce. Ele tem sabido manobrar com mestria uma rede de distribuição de vantagens, benefícios, cargos, benesses e manutenção de interesses que serve muita, muita gente. Sócrates foi deputado e Ministro do Ambiente e isso deu-lhe uma enorme massa de contactos pelo País fora. Conhecer e dominar uma estrutura nacional de contactos é algo de primordial importância na conquista, exercício e conservação do poder. A isso acresce que o PS, com a sua tradição de cumplicidades e protecções aprendida com a Maçonaria, tem como caldo de cultura o favor e a defesa dos seus. Apunhalar Sócrates iria contra esse código genético e abriria um precedente que ninguém quer que mais tarde se vire contra si. Por último, sejamos pragmáticos: sendo a estratégia socialista a da conservação do poder para a continuação do seu domínio de pontos-chave da sociedade portuguesa, faria sentido abrir uma crise interna só porque Sócrates fez tudo aquilo que podia para lhes permitir alcançar esse objectivo? Talvez isso lhes possibilitasse uma operação cosmética, mas jamais o PS quererá mais do que isso. Desde 1995 que o PS domina totalmente o aparelho de Estado, o que em boa medida se manteve em 2002-2005 com o interregno da governação PSD/CDS: para contentar Sampaio, Barroso e Santana Lopes mantiveram ao nível de quadros intermédios muitos que estão ligados ao PS ou, pelo menos, que vão saltando de um lado para o outro. As malhas da rede estão, pois, muito apertadas e sólidas, permitindo que a falta de vergonha de Sócrates triunfe e se imponha à ética e à Justiça. Pouco há a fazer: Cavaco quer a reeleição e tem medo de não a conseguir se enfrentar o status quo; a oposição está minada por colaboracionistas e já viu que o controlo socratino dos media e do tecido empresarial não lhe permite grandes veleidades.» Carmindo Mascarenhas Bordalo
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