GANHAR PILAR
Se se efectivar realmente a obtenção da nacionalidade portuguesa por parte de Pilar del Río, que a requereu, Portugal ganha mais uma cidadã capaz de intervir ao modo como, gostasse-se ou não, Saramago intervinha. Omisso em tantas matérias, mas não na perturbada obsessão religiosa, ele foi alguém que buliu com a sacral indiferença humanista e compassiva de muitos e a quem nada justifica a recusa póstuma de um nome de rua, beco ou avenida. Pilar quer ser portuguesa? Óptimo! Faz mesmo falta quem diga qualquer coisa contra, por exemplo, os 5 milhões de euros gastos em pensões ou reformas vitalícias de políticos, contra o aumento obsceno da despesa corrente do Estado (o PSD deu a mão a isto, apadrinhou esse devorismo galopante em roda livre, meu Deus!) e o paradoxal endurecer (globalmente solitário ou desacompanhado de outras) das medidas restritivas do RSI. Quando as clientelas partidárias, sobretudo a "socialista", continuam a atirar o Estado para um abismo irremissível, como compreender os sacrifícios gerais, impostos unilateralmente pelo Par do Tango, sem o bom exemplo particular dos políticos e das suas políticas?! Falta quem, assumindo a plenitude da cidadania portuguesa, diga algo, estimule algo, exemplifique algo. Por exemplo, Pilar del Río. No fim de contas, fico a pensar que Portugal deve ter mel, tantos, sendo estrangeiros, o desejam. Não tem senão fel para milhões dos que cá nasceram e enfardam traições e mentiras de toda a sorte.
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