DEVE SER IRONIA

Não gosto lá muito disto que o Coutinho tem bolçado: frases tão intragáveis e sarcásticas que manifestamente funcionam com passes autopromocionais eficazes dada a celeuma que originam sobretudo na bloga. O moço é brilhante, mesmo quando evacua bacoradas que só veiculam um tom desprezivo e descuidado para com quem sofreu. Questiono esses, como eu num primeiro momento de escândalo supersónico, por que se não escandalizam e agem contra o modo como o Estado-PS nos converte a todos em abusados sob quase todos os pontos de vista dentro de uma "democracia" que só o é em caricatura canalha. Qual a diferença entre a irrelevância de um corpo alugado e pago para o pecado abominável do abuso e toda uma Nação lassa, violentada pela Mentira, trucidada pela Propaganda e ainda assim incapaz de reagir e levantar-se contra a suprema podridão que a governa?! Quanto ao que o rapaz Coutinho escreve, obviamente demito-o, isto é, não olhar a meios para uma fama instantânea fácil é tão feio como uma licenciatura domingueira. Exacerbar ânimos, excessos de verve e coisas que chocam a sensibilidade? Só pode ser ironia. Será?!:  «Nem por isso. Aqui há uns dias, em tom grave e alarmado, ‘especialistas’ diversos surgiram nos jornais a defender o que Platão já tinha escrito na sua ‘República’ totalitária: que os filhos deixem de estar sob a alçada dos pais, de preferência se engordarem mais do que o estritamente necessário. A medida, como qualquer medida paranóica, pode ser apenas um começo. A prazo, adolescentes que fumem; que pratiquem sexo sem preservativo; que não façam jogging com fanatismo diário; e que não considerem o eng. Sócrates a melhor coisa que nos calhou na rifa centenária poderão ser retirados da casa paterna e entregues a uma instituição do Estado que os trate condignamente. Como, por exemplo, a Casa Pia. Verdade que, segundo os juízes, na Casa Pia os ‘filhos do Estado’ eram traficados e violados por máfias e tarados sortidos. Desconheço se ainda são. Mas antes isso do que a imagem repelente de uma criança obesa a pedir mais um hambúrguer.»

Comments

Daniel Santos said…
excesso de verve? excesso de verve? excesso de verve?
Daniel Santos said…
e só demito-o?
joshua said…
Isto só pode ser ironia a fazer reboliço nas águas mortas da Opinião.

Não acredito que seja literal. É um passe promocional eficaz.
Manuel Rocha said…
:)

Já havia uns bons tempos que não te lia, Joshua, outras lides se impuseram. Por vezes a distância faz bem. Dá perspectiva, ajuda a apreciar ainda mais as coisas boas e a perceber claramente por que não gostamos de outras.
A tua escrita continua magnífica. Os teus registos mantêm uma intensidade rara de se encontrar. Escrevi aqui, logo que te descobri a prosa, que te achava um caso sério das palavras. Não o digo com a autoridade de nenhuma cátedra literária, que não tenho, apenas com a sensibilidade de um certo gosto. É esse gosto que me mantêm cativo do teu brilhantismo, não os conteúdos dos teus desenvolvimentos. Nesses, é frequente que resvales para a assertividade típica do caldo verde: é caldo porque é verde! E é uma pena.
Vem isto a propósito do teu alvo de eleição. Arranjas sempre maneira de o intercalar nas tuas carreiras de tiro. De tal forma que te desconcentras e muitas vezes acabas por borrar os dois e não acertar em nenhum. E eu acho um desperdicio. É que, ao contrário de um Coutinho, que não passa de um atado de balões coloridos, tão vistoso quanto fútil, e por isso tão ao gosto desta pós-modernidade peidante, reconheço em ti qualidades de inteligência e arte que só se encontram nos atiradores de elite. Por isso acho-te um desperdício nestes torneios de paint-ball em que te deixas enredar.

Aquele abraço.
MR
joshua said…
Caro Manuel Rocha, concordo contigo tanto quanto, em certas matérias, a minha natureza de escorpião sobre o dorso da tartaruga salvífica pode concordar. [Na vida do dia-a-dia sou completamente Peixes e empático com toda a fauna humana.]

Quatro anos de bloga permitem-me sentir bem o que vale e o que não vale a pena tratar. Neste pequeno caso do Coutinho, é como se ele perante um conjunto de "apodrecências" provasse um ponto: assim como não há nada que escandalize e conduza a alterações, mesmo quando todos os graus de nojo foram ultrapassados no plano das instituições e da política em Portugal, do mesmo modo não haverá consequências de maior para frases contundentes, urdidas para ferir e criar monumental pasmo, por muito que cão, gato e periquito venham estrebuchar. É um registo deliberadamente provocatório e intencionalmente decadente. Funciona.

É com imenso gosto e humildade que acolho quanto de bom e fecundo o meu caríssimo amigo Manuel Rocha tenha a considerar sobre a minha escrita "passional" e o faça num registo frontal e recto que muito o prestigia a si e à bloga.

Abraço Grande!

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