SUL, MEU SUL
Que emoções enraizadas nutri naquelas infinitas viagens que fazia, semana a semana, rumo ao meu Sul! Parte da paisagem portuguesa me corria os olhos, as aves do céu, a luz dos dias, as torrentes transbordantes. Com a face colada ao vidro, contando árvores. Ininterruptamente, do Porto a Lisboa e daí ao meu amado destino, eu sonhava e submergia nos braços de Deus, submisso e luminoso, capaz de um sorriso e de um amor irreprimível e incondicional pelas pessoas. As minhas empatias fáceis, automáticas eram filhas da contemplação. Do Porto a Aveiro, de Aveiro a Coimbra, de Coimbra a Leiria, de Leiria a Santarém, de Santarém a Lisboa, de Lisboa a Almada, de Almada a Setúbal, de Setúbal ao meu amado destino. Deixava-me ir, alguém conduzia o Expresso. Ia só. Esfomeado e humilde. Sentado num canto. Raras vezes, uma conversa anónima, uma partilha feliz. Na maior parte das vezes e do tempo, no meu cérebro, Schubert, Fauré, Mozart, Paganini, Bach, e a paisagem exterior doía com a paisagem interior ressoando densa e espiritual. Tenho saudades de sentir e pensar o que ambas me davam a pensar e a sentir, mas sei o Caminho. Meu Natal, meu Cristo, passam por esse despojamento venturoso, duplo viajar e absoluto chegar a Casa.
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Ass.: Besta Imunda