ANATOMIA DE UM PULHA
Um pulha não é nada disso que vocês estão aí a pensar.
Nada tem a ver com os anti-heróis da BD ou da vida: sempre vigorosos,
sempre óbvios na sua brutal malícia, pouco subreptícios, pouco dissimulados.
Não. É sempre outra coisa diversa, mais certeira e mais letal.
É alguém que nunca ostenta força,
alguém que aparenta tolerância e aparente encaixe,
alguém que continua a rir, mesmo quando lhe dizem e lhe mostram pensar dele:
«És um bom filho da puta! Não vales uma bostita de ovelha.»,
é alguém que força o próprio sorriso ao parecer engolir
desconsiderações e fastios pois sabe que sorrirá em grande
noutra altura qualquer com o seu alvo despreparado para o inesperado,
vulnerável na hora de ser eliminado,
e sorrirá de preferência incólume e indemne,
como se nada tivesse sido da sua lavra e iniciativa.
lkj
Um pulha pode ser, aos olhos de todos, um homem feio,
um tipo fisicamente fraco, desprezível, um zero, corpo de espantalho,
e cujo pensamento e discurso se duplicam, divergindo sempre da acção concretizada,
e cuja actuação, uma vez arquitectada e depois consumada,
revelará, afinal, um general genial, no campo napoleónico de batalha,
totalmente sem escrúpulos a fazer a guerra a desarmados e desprevenidos.
Um pulha é isto e é provável que venha a ter sucesso no seu boteco
sobranceira e pretensiosamente chamado por si 'Pub'.
lkj
Evidentemente que se um pulha destes lidasse com outros pulhas piores que ele,
não tão feios, não tão reles, não tão desprezíveis,
todavia capazes de torturar e matar desportivamente pulhas rivais,
coisa a que este pulha miserável não está habilitado,
capazes de pulverizar pulhas feios, reles, desprezíveis, como ele,
ele, que não é burro, procuraria ser só um pouco menos notoriamente desprezível e pulha
e desaparecer de tão lodoso e minado território bruto. É pulha, mas não é burro.
lkj
Enfim, estaríamos aqui a tarde inteira a descrever um carácter traiçoeiro, sem lisura,
a quem ninguém dá crédito, de quem todos dizem o pior,
a quem toda a gente despreza com profissão e com fé.
Mas não vale a pena.
lkj
Registe-se, no entanto, ainda,
que os seus óculos são só uma prótese que disfarça uns olhos literais de camaleão.
Acrescente-se que a sua longa grenha ondulada, de pseudo e tardio hippie,
(no passado comunista, hoje sem qualquer moralidade laboral,
explorando imigrantes com gula e sofreguidão),
quando solta e descaída sobre os ombros,
formando a imagem perfeita de uma boa esfregona,
lembra uma daqueles efeminados das festas e salões aristocráticos do barroco,
com os seus trejeitos e tiques pomposos,
com o seu tóxico egocentrismo sempre exasperado nunca sublimado,
sempre em ciumeiras de artista repetitivo às teclas
onde percute sempre a mesma escala ascendente,
efeminados horrorosamente feios,
com as suas verrugas, a sua fealdade exuberante entre folhos e sedas,
horrorosa e ostensivamente maricas, por azar de repente sentados a nosso lado,
acabados de tomar banho, a tresandar a uma colónia reles e conhecida qualquer,
e que nos obrigam a dizer pensativamente entre dentes, olhando-os,
como no filme, Predator, com o comando Schwarzenegger,
quando o alienígeno bicho se desnuda das armaduras para combater corpo a corpo:
lkj
Alguém, cuja mesma grenha, quando presa em puxinho de gaja,
medonhamente lembra, pavorosamente recorda,
uma dona de casa perdida, uma Maria Alice agitada, arvorada em sublime artista,
um extra-terrestre infiltrado entre pessoas normais, um insecto gigante,
com dentes ralos e desconexos de desenho animado
os quais passa a vida a tapar, enquanto fala.
lkj
Claro que, visto de perfil, este pulha já sobejamente anatomizado nesta posta,
inscreve-se bem nos caracteres simpsonianos e por isso ante ele sorrimos.
Errado! Nada de sorrir e subestimar um pulha destes. Ele que sorria sozinho.
Nós é que não. Nunca.
Ele voa mais alto como qualquer morcego maldoso e sabe mais que o que mostra.
Nele há o efeito da mina antipessoal. Não existe. Não o levamos a sério nem em linha de conta.
Só depois de pisada, nos daremos conta dela, mas já tarde de mais,
sem pernas, no penis, no balls.
lkj
Por isso, perante um pulha tão multifacetado e discreto,
tão desenho-animado-Simpson, com o aspecto do druggie Otto
e espírito mais sorrateiro e perverso que o de Mr. Burns,
não pode haver contemplações e benefícios da dúvida.
Só distância. Só prudência! E indisponibilidade. Toda!
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