E-MAIL A CAMÕES, SAGA EDITORIAL I


Ontem, caríssimo Camões, mais ferido e revoltoso que um tigre emboscado,
e com a mesma implantação obsessiva de pensamentos contraditórios no cérebro
que têm os gajos traídos pelas suas gajas e cujos crimes lemos nos jornais,
tão prontos a consumar com uma faca descomunal
a limpeza passional da sua honra,
fui dar uma grande volta ao Bilhar Grande: três horas peripatético comigo mesmo,
numa caminhada de 20 ou 25 quilómetros, a ver se me passava
o tsunami de asco e ressentimento com dois filhos da puta: o meu ex-patrão
e a sua amante e ocasionalmente arvorada em patroa.
Fodi-me porque nunca lhe admiti sobre mim essa função tão instável e ocasional
de pseudo-patroa a que muito ocasionalmente se arvorava.
Pois muito bem, era Domingo. Marcharia para esquecer.
lkj
À beira-mar, os portugueses durante o Verão são ridículos, sente-se que nem sonham
a merda com que os incompetentes dos políticos os mimoseiam e a conta nula em que os têm,
mas isso não os isenta de ser ridículos todo o santo ano, caríssimo Camões,
era só para construir uma frase cortante.
lkj
São rídículos, parolos, alienados, fazem fé na bondade da gente reles que os pastoreia,
metendo muito os olhos nas minhas pernas e na minha beleza de macho cortando o ar.
Há barrigas desesperadas em marchas solares inúteis para as barrigas
e sente-se que em nada perseverarão no desbaste adiposo.
Há casais idosos com as mais diversas assimetrias
pelo ar de figadeira de um e o ar de caganeira de outro.
Há casais jovens que, com as mais diversas colorações e configurações, recordam acidentes,
circulam bicicletas agressivas e tangentes, o sol embebeda de euforia toda a gente,
e só por raras vezes cruzamo-nos com quem talvez valesse a pena conversar.
lkj
Há cães e cãezinhos a passear gente por todo o lado
e as magníficas passadeiras marginais de Gaia Litoral estão
por isso mesmo enfeitadas de merda com todas as configurações inteligentes:
ali o cu do cão formou um Quatro aleatório, acolá fez um Xix,
mais adiante percebe-se que a bosta canina desenha uma letra, um L ou um T.
É a natureza a dar-nos sinais do que pensa sobre nós, Camões.
lkj
Tu sabes. Remetido à obscura miséria de um retornado de exílio, tu sabes.
Também o fizeste, quando, esfarrapado, ao cagar escondido nas vielas de Lisboa,
desenhavas iniciais no chão e mijavas acrónimos nas paredes da miséria,
pensando para que diabo te servira ter amado tanto o Reino e o seu Povo
e ainda mais estando bem longe, nas Índias, como o João Severino, nas Ásias e Oceanias,
se a verdade lhes era, às ignaras gentes, ainda mais desprezível que o esterco.
lkj
Afurada: Ratos de esgoto, grandes como coelhos cevados em quinta,
evidenciam-se despudoradamente nas rochas evidenciadas pela maré vazia,
surdindo delas a comer bocados de pão que almas caritativas
lhes arremessam e por ali espalham. O que era para pombas serve para ratos.
O ridículo é aquele pai e aquele filho pequeno encostados ao parapeito
a contemplarem aquilo como se fosse um espectáculo e peras,
lembrando o público português na Suíça, durante o Euro:
«Olha ali aquele, tão gordo... Olha ali vai outro, é o Ratonaldo.»
Enfim, o caminho é longo. Gostei do teu e-mail.
Curioso, Camões, também tu fazeres/teres feito anos de casado com a tua Dinamene
no mesmo dia da minha irmã e do meu cunhado, 5 de Julho. Parabéns!
Tive um jantar de família memorável no Sábado a esse propósito.
lkj
Olha, já vai em duas as editoras para as quais enviei por e-mail
a minha proposta de Livro com um linque com base na etiqueta 'Pub'
dentre as etiquetas do meu PALAVROSSAVRVS REX
para que o meu trabalho nesta matéria apareça ao leitor/editora
numa sequência do mais recente para o mais antigo.
lkj
Agradeço, acolho e acolherei com enorme gratidão
o que me puderes prover quanto a esses contactos porque quando se diz:
«O meu padrinho é o Camões!», todas as portas se nos abrem,
a não ser as do Ministério da Educação, entretido a desmantelar conteúdos,
a inutilizar activos humanos,
a desmoralizar ludicamente a ordem rigorosa das coisas do Saber.
São contactos a que a tua multidão de veneradores pode privilegiadamente aceder.
Veremos aonde irá desembocar esta aventura
porque o certo é que dela não desistirei até que desemboque, no mínimo,
no meu Primeiro Livro, e, com a devida publicidade e polémica,
também nos proventos mais que urgentes e justos para a minha vida difícil.
lkj
Por agora, tenho de procurar um emprego qualquer, qualquer mesmo,
porque ter perdido este, humilde, do Pub,
e que boa parte da clientela VIP considerava uma merda desprezível,
como eu inicialmente, envergonhado da servilidade simplória nele incluída,
(seleccionar clientela,
barrar clientela rasca,
receber clientela VIP-milionária ou mediana mas bem-comportada,
controlar clientela,
ouvir, ouvir e ouvir clientela,
transformar o ódio de muitos ao meu ex-patrão em triunfo rendoso para ele,
arrumar garrafas vazias,
encher frigoríficos com garrafas cheias,
reportar lacunas em stocks de bebidas,
aturar esse Saco de Lamúrias Traiçoeiras do meu ex-patrão, o falso,
sentir ocasionalmente as tentativas de autoridade e importância goradas
da amante brasileira do meu ex-patrão,
sorrir and to be joyfull and gay to anyone, puta que os pariu!),
ter perdido, repito, esta 'magnífica coisa realizadora', Camões,
que me era o Pub foi inesperada mossa no bolso.
lkj
Pronto, vai à tua vida. Não te maço mais, ó Camões.
Também levaste muitos pontapés no cu e não te queixaste tanto como eu.
Foste mais esperto e deixaste-te morrer, um bocado de fome, um bocado de vinho bastam.
Que vício o meu, nunca esconder que sofro. Mal imaginam os que me leiam
que falo deles mesmos ou agora ou mais tarde, mas sem que falhe.
Sofrer, ter de morrer, morrer várias vezes pela espada da humilhação,
não é um exclusivo aqui do escritor. Ou há moralidade ou comem todos!
lkj
Dá aí um xoxo a esse putanheiro e santo do Bocage.
Diz-lhe que temos um novo Diogo Inácio de Pina Manique
e que a prepotência está em alta.
Diz-lhe que, em Portugal, já não há colhões satírico-sociais corrosivos como os dele.
Diz-lhe que eu, no Pub, apertava a mão a gente
por um lado com casas de valor acima de 250 mil euros,
com automóveis ligeiros de valor acima dos 50 mil euros
com motociclos acima de dez mil euros,
com barcos de recreio de valor superior 25 mil euros,
com aeronaves de turismo sei lá com que valor,
mas que, por outro lado, despejavam os trocos todos na mesa para criteriosamente escolherem
as moedas com que comprariam tabaco na máquina respectiva que eu supervisionava,
sem nunca, jamais, me darem uma,
mesmo fraternizando comigo calorosamente e eu com eles.
lkj
E, Camões, uma última coisa: faz figas por mim, reza aí uns Pai-Nossos por mim,
já que estás tão perto da Divina Majestade. Amém.

Comments

antonio ganhão said…
Não existem activos humanos, esses deitam-se para o lixo. Mais depressa se guarda uma garrafa de licor, com um restinho que não chega para uma dose, do que se conserva um activo humano. Meu caro, o desespero não conquista, tens que o dominar primeiro. E isso passa por arranjares um emprego. Como se isto fosse novidade para ti... não é o Camões que te salva, se te servir de conforto, pensa sempre que as coisas ainda podem piorar.

Tens que ter algum cuidado com a matéria do teu blog uma vez que ela invade à esfera do direito de reserva à intimidade. Mas disto já eu te falei.
Pata Negra said…
Joshua não és pivot de telejornal nem comentador de televisão para poderes ganhar dinheiro com livros, assim, sem mais nem menos.
Pensas, escreves, imaginas, crias - tudo bem!
Entre a miséria de Camões e a fortuna de Saramago, não escolherás nenhuma, sei! No meio, existirá um termo, sem exigências, sem contrapartidas: apenas, duas ou três folhas escritas e acertadas, no momento certo, o leitor certo e zás - O LIVRO!
Nos intervalos de procura de emprego escreve e vice-versa!
Desculpa-me o discurso paternal, eu até não sou nada assim:
- Puta que os pariu a todos!!!!
Um abraço solidário
KImdaMagna said…
A verdade nua e crua do nosso dia a dia lusitano.
Dito cáusticamente ( reproduz integralmente) este pachorrento e equivocado pastoreio da Nação.
Dir-te-ei, controla a tua raiva,
mas para quê: para escreveres um rosaromanceado qualquer conceito, ou uma dimensão galáctica do acomodamento que definitivamente parece ser o "fado" português.
Não não o farei, incentivo-te sim a invadir a esfera ( que por acaso é um quadradão) do indireito de reserva à intimidade.
Por vezes também penso que não existe " A intimidade " logo não poderá haver violações do que não existe.

Xaxuaxo

xaxuaxo
Tiago R Cardoso said…
como é que será a expressão de alguém de boca aberta ?

Dá-lhes Joshua, não desistas, força.

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