FAUCES, CORNOS, DENTES
Tu, que transportas sempre contigo essa afiadíssima Faca de Aço e de Verbo-Matar,
reservada a um inimigo de última hora com quem te indisponhas,
tu, que recomeças a tua vida de três em três meses,
que te reergues e re-afundas, entre a sístole vulcânica da tua cegueira
e a diástole da paz confiada a que, por instantes, te atreves,
vieste de novo a rasgar as tréguas
ao teu retalhado modo de viver.
lkj
Ela tem outro, pronto. E daí? E que interessa quando começou?
Se antes, se depois de te afastares daquela morte, não já casamento?
Agora queres matar a eito, lavar a tua honra, cumprir vingança,
simplesmente porque não te consentirás o ter sido corno?!
E em que tempo exacto é que se começa a sê-lo?
Ao primeiro pensamento dilacerado dela, desejando outro,
ou à primeira consentida compressão maciça das suas carnes com as de um outro?!
lkj
Pior que um corno cego é um burro convicto!
lkj
E a verdade é que és homem para isso, para morderes mortes ladradas.
Homem, isto é, desumano para o cumprires nesse suicidário circuito de fúria.
lkj
Ficamos aqui à espera, a ver como e por que tem de repetir-se esse teu filme habitual
e com que capítulos dissonantes agora mais dramáticos, sangrentos ou inconsequentes.
A loucura mais cega é necessariamente ostensiva, tu prova-lo bem.
Ranges os dentes. Bravejas. Esbracejas, mesmo contra quem te segura a mão
e te leva a mansidão da palavra ponderosa ao teu esgoto irremediável.
Essa loucura revestida de violência irracional-passional,
é um enunciado que se exibe a arder em pólvora,
ácido que corrói um ténue vínculo ao futuro,
e acaba absurdamente mal.
ljlj
E eu no meio disto, desta tua recaída, poderás perguntar?
Eu, só por te ter acreditado uma nova vez, sou só este tailandês
com a testa incerta, inserta entre reptilianas fauces!
As tuas, novo Joseph K. palpável, fora do livro,
inútil unhando o labirynthico Processo que a ti mesmo moves e a nós!
As da vida!
lkj
Ora foda-se!
Comments
Parece-me que andas aí a rodear a traição e quando começa, não é? Eu como não acredito na natureza fiel da espécie humana... Não sei bem o que se entende por isso. Enfim, uma grande questão...
bjs