LIÇÃO AMERICANA A REPETENTES CRÓNICOS


Gostava de ter sido eu a operar autopsiante o cadáver
da nefanda e miserável mentalidade nacional
com o precioso bisturi preciso e lúcido que se segue:
kh
«Sim, eu sei, sou um desmancha-prazeres.
Mas vale a pena assinalar que quem derrotou um Governo ignóbil
foram os americanos. Não fomos nós.
lkj
A América defendeu o seu Estado de direito,
enquanto nós o malbaratamos entre palminhas servis.
çlk
A América reencontrou-se com a nobreza das suas instituições,
enquanto nós nos extasiamos com quem governa por decreto
e enxovalha as regras da democracia.
çlk
A América protegeu as suas minorias enquanto nós permitimos
que classes profissionais inteiras sejam humilhadas
por uma casta de empertigados que nunca trabalhou.
lkj
A América derrotou a corrupção e a ganância dos seus políticos,
enquanto nós louvamos a ganância e a corrupção dos nossos.
çlkj
A América reencontrou o verbo claro da cidadania,
nós deleitamo-nos com a língua de pau dos amigalhaços.
lkj
A América vai impedir que se destruam as suas áreas protegidas,
enquanto nós suspiramos por mais um mamarracho na capital.
lkj
A América venceu a mafia republicana, mas nós tapamos os ouvidos
quando gente bem informada fala de Al Capone em Portugal.
lkj
A América pede contas a quem manda,
enquanto nós pedimos migalhas a quem se enche.
lkj
A América deu um pontapé em Bush,
nós vamos dar a maioria absoluta a Sócrates.
lkj
Muitos dos que deliraram com Obama, irão hoje rojar-se docemente
aos pés de Alberto Martins ou Vitalino Canas. Irão fazer isso sem dúvidas,
sem perplexidades filosóficas, sem hesitações.
Porque vida é mesmo assim: os americanos são estúpidos,
nós somos europeus
lkj

Comments

Maristeanne said…
Joshua,

Não tens nada de “desmancha-prazeres.”Esse é seu ponto de vista e pronto.

Mas que foi uma lição digna de aplausos... ah, isso foi!

....


(a)braços,flores,girassóis :)
Joaquim Alves said…
Eu até concordo com o texto todo, sobretudo no que diz respeito aqui ao nosso "canto europeu", mas quanto à América acho que ainda é cedo para dar as coisas sobre que aqui se escreve, como adquiridas.

Abraço
Teresa Durães said…
por estas bandas é difícil de entender os erros passados e a repetição torna-se perpétua
Caro Joshua

O champanhe é hoje, esta madrugada ou amanhã? A Miss Portugal nasce a que horas? Não fiques muito nervoso e não te esqueças de dar a boa nova. Que tudo corra bem com um abraço.
Patrícia Grade said…
Josh,

Sei bem que não são palavras tuas e sei também que muitas das expectativas em torno de Obama não se farão em 4 anos e acho que a jogada será mesmo essa, 4 anos a puxar para os 8 e talvez mesmo aos 12...
Mas não consigo deixar de concordar com vários tópicos do texto em si. De facto sentiu-se na américa um pontapé no traseiro do Bush, um retorno à participação activa dos cidadãos na vida politica daquele país.

Há alguns anos, numa época em que me parecia que iria viver para sempre e os meus 18 anos eram de uma frescura impossivel de manter hoje, ouvi dizer a um professor de ciência política e que é um dos melhores comentadores políticos que conheço, que os EUA têm uma taxa de participação do cidadão comum na vida política de 90%. Ora, não se pode realmente chamar estupido a um povo que tem esse tipo de participação na vida política, não é?
Podem ser muito desatentos em termos de história e geografia universal, mas sabem muito bem os políticos que têm e participam e interessam-se com o que se passa a´sua volta, manifestam-no no seu direito de voto...

Por cá temos um povo que se serve de toda e qualquer desculpa para não ir votar, esquecendo-se que para terem esse direito outros houve que tiveram de dar a vida...
ouvir os políticos é chato, participar activamente como cidadão é dar muito sem ter nada em troca, informar-se sobre o que se passa na escola dos filhos e interessar-se pelas suas vidas académicas é tirar demasiado tempo a uma ida ao café ou para ir "meter" o totoloto e o euromilhões...

Muito mais poderia aqui carpir e de tudo a mesma conclusão tiraria... a nossa sociedade não se interessa em participar activamente em coisa nenhuma, prefere que decidam por ela e se uns e outros fazem tudo igual, "eles" querem é encher os bolsos, mais vale que fique lá o mesmo, não é?

(desculpa, estou tão desgostosa com este país que a amargura vai vazando em tudo o que é sitio...)
antonio ganhão said…
Brilhante!

Indy, tão fraca é a tua fé na mudança? Para ti Mcain ou Obama era indiferente, uma vez que são os "poderes instalados" quem governa?

Nada impede Obama de fechar Guantánamo no dia seguinte à sua tomada de posse.

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