RESCISÃO SANGRADA INAMIGÁVEL
Plácida, sempre plácida, a luz-ocaso de Novembro tão de prata,
que lhe fora de esta vez, de este ano, uma completa Primavera tão fecunda, paternal,
foi ela que lhe flagrou aquela faca apontada e o grito: «Eu não infiro nada.
Falaste-me da tua sede da minha companhia. Lembras-te?! Disse-te da tristeza feliz
em que passo os meus dias sem ti depois do que me disseste de mim.»
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À arma e à voz queixosa do outro, o ameaçado recuou.
Alado, o alarme ondeava rebrilhante naquela lâmina de hesitação decidida.
E o outro, seduzido pela aura do seu amado refusivo, agora vitimado e refém,
aura que o dominava, o outro insistia, avançava,
braço tenso lambendo a brisa, matando o vento frio:
«Então? Não dizes nada? Sim ou não?
Não pensavas com verdade o que me disseste? Sequer o sentias.»
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Era tarde de mais. A luz fechava-se. Mas a pergunta aberta era uma urgência mortal,
uma maldição de abandonado que enlouquece porque abandonado,
e, sem fuga, o acossado sedutor foi homem. Abriu os braços ao argênteo ferro
e atirou perdido: «Entendeste tudo mal. Prefiro fêmeas, meu amigo, à Patria!»
Foi frase o bastante para ser ele morto logo ali, corpo que se nega,
morte que se assume dada, carne perfurada até ao cansaço
de um coito feroz que, de ofegante, logo estaca. E foi braço.
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