UMA DEMISSÃO LUSTRAL

Movia-me, mais que qualquer outro sentimento, um de compaixão por Miguel Relvas. Relvas é uma das faces do Regime: o Regime não merece qualquer compaixão porque segregou a gentalha mais lesiva dos interesses colectivos que nem em quase novecentos anos de História, mas Relvas apanhou com todas as pedras na grande lapidação cívica em decurso que aliás não poupa, porque não pode poupar, outros nomes com muitíssimo mais lata e infinita cara de pau. Diga-se que o martírio público e notório de alguns bons cabrões da nossa não obteve ainda nenhuma das correspondentes consequências por parte da Justiça. O mal do Regime é larvar e medra até ao rebentamento final.

Relvas, coitado dele e coitados de nós, serviu de bombo e pagou pela medida grande o nosso cansaço com os esquemas rascas do Bloco Central de Interesses, o seu estatuto de excepção perante a Lei e perante a Economia, a vulgaridade de processos para consolidar posições de poder intra-partidos e, um dia, a Governação. Evacuado Relvas, está agora o Ministro da Educação livre para divulgar o relatório sobre as licenciaturas por créditos e concretamente qual o parecer [já se percebeu qual] sobre a licenciatura do ministro demissionário. Esta saída, em boa verdade, corresponde ao banho lustral deste Governo por que uma maioria silenciosa clamava há muito. Talvez purifique. Talvez aplaque.

Isto não vem tarde nem vem cedo. A imagem não é tudo. É horroroso o modo como muitos políticos procuraram retocar o seu currículo com licenciaturas inexistentes, como se tornaram leões sobre redacções de Jornais, directores e jornalistas, elefantes sôfrego sobre programas de Rádio. A minha única mágoa é que eu julgava que, mesmo com Relvas, seria impossível a reedição de tudo o que lembrasse o anterior playboy armado em Primeiro-Ministro, o seu fascismo comportamental, o seu Mentir Crasso e Despudorado, a sua insensibilidade ostensiva e obscena pelas pessoas fora da facção partidária. 

Enganei-me. Na estridência ou no sussurro, Miguel Relvas não passou de um pequeno traço contíguo a unir dois momentos de uma só maldade contra todos os portugueses: o Regime tal como está. 

Comments

Floribundus said…
Caro Amigo
tem que alterar a última frase devido a gralha no vocábulo 'medra'

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