AUTOMATEMA ENTHVSIASMVS



Ai, meu Deus,
toda a gente tão amiga e eu tão incapaz de esse pacifismo amistoso.
O meu coração domou-se de ilusões, domou as crenças em gente
e só crê na palpabilidade de si.
Mas será que o meu amor refluiu, estanca cá dentro, pantano de ego?
Ser amado é difícil.
Ser julgado, o pão quotidiano.
lkj
Quero Arte no respirar alterado dos meus coitos. Quero Arte!
Se tardais, se pensais resistir à minha orfeica voz, é tempo perdido.
Minha flauta agreste agride de acre as vossas lentes.
Tenho espinhos de doçura que vos dedique, dedilho sonoridades de desdém em zénite.
Zarpo para arrotar pulsões em rotas sagitadas, por vosso amor.
Embebei-vos da minha Palavra Sáuria, viva, régia.
Nela se acalente a vossa palavra mínima, roedora rabilonga.
Evolucionário, nada ordinário, pegada indelével sou por existir, por existir somente.
Lambo a letra, limpo interstícios de esperança.
Meu ser flutua além-desprezos, despreza além-fitos,
os alvos níveos de um dia-Céu.
Eis-me na minha noite em que me poeto e a loucura divina hauro em oiro - não ledes?!
De repente, é amar todo este derramar de tinta. É amar. Autodádiva sou,
de repente, repentino, predador.
Gente aporta deslizando por lages em luz. «Boa noite!»
Boanoitizam-me mulheres secas, húmidas, frias, tristes, com sorrisos góticos, dentes grotescos.
Colmos ancestrais trespassam frios e fumos fogueira fagueiros.
Ovelhas balem, blateram políticos. Uivam populares opiáceos em estádio vazio.
Quero Arte nos meus arfares arfantes de cio em coito, quero Arte!
Tenho-a sem plangências.
lkj
Que foi, mulher, por que te lamentas?
Dói-me agora mesmo o teu olhar dorido. Sei-te a espessura, sondo-te os rins,
conheço-te inteira, nada do teu fígado me é alheio.
Se te amo?
Não conheço outro verbo e a todo o momento respiro-o sobre ti.
Reparo nos teus seios, reflectem-se dos teus olhos índios amendoados no meu ventre.
Que temes? Não vês os meus frémitos por ti?
Afago-te por longas horas.
Se há uma saudade satisfeita, preenchida, é ter-te as noites, é a certeza de invadir-te
e ver-te a cidade já minha, já rendida, mulher. Sou-te o invasor.
És-me a cidade ansiada.
Por isso, o mundo dilui-se-me em nulo. Juntos nos fazemos. Juntos, nós, os que se amam,
curámo-nos ontem. Curamo-nos hoje, momento clépsidra a momento.
A trama que me trama é competir nas minhas competências. Atarantem-se outros.
Eu estou firme. Poiesis é o trabalho do aço incandescente. Torno é a minha mente e mão,
unas. Fora dos fora ainda há vida, a minha. Aqui.
Perante o medo que os portugueses querem ter e coleccionam por causa de um governo
que sabe que pode ir mais longe nos cortes, nas sortes,
apetece-me algo. Algo entre o foder com tudo em rebeliões solitárias e fogosas
e o limitar-me à palavra convexa, côncava nova nau com que aportarei a Sião
e a seduzirei e a cativarei pelas eras. Há brandura num coração português.
Ele assimilou, mais que nenhum outro, o lado dos cabritos evangélicos,
tive fome, e anseia por assemelhar-se aos cordeiros, ovelhas nas lãs mansas
de assemelhar-se ao aborígene. Queimo os vossos jogos e os vossos livros avessos
à energia vital que percorre omnisciente o Cosmos e há o véu.
Como és pagã e vã, ó Cristina! A tua ética do oco enfeita de medos a carne infinita.
Quando menstruas, espermas-te de relativo.
Aborto é abutre, Cristina!
Abdica sem básico. Queimas. Há infernos no teu hálito. Soas a estéril contra.
Capas o touro do nascer. Não te vens a ver-me?
lkj
Requiesço em paz pós-poema. Chego ao fim de página como numa noite inspirada
de muito corpo entrando o teu muito.
Sem parança, sigo e prossigo, cilindro-te, comprimo-te de gozos
até à tua irrespirabilidade feliz e ao meu alívio.
Assim, vai a minha página em fim. O poema revolve o tesouro do verbo.
Meu poema sou eu e vou direito ao imprevisto, ao forçoso,
como uma depressão desaba sobre um país lavando-o em lágrimas,
quando a torrente rege de lamas o caminho.
Alinham-se cadáveres. Contabilizam-se. Afinal, não custou nada as nossas Páscoas.
Afinal, ser pobre passaportiza-nos numa morte indolor.
Afogámo-nos. E daí? É sem quisto-câncro que partimos.
E donde estamos dor nenhuma nos tira.
E vós, que vos pensais vivos, é só mais um bocadinho e vereis.

Comments

Pata Negra said…
Digo sempre isto: a poesia não se comenta, sente-se, engole-se, vomita-se, escreve-se, lê-se, dói-se, canta-se e até nos cala.
Gostei tanto que até vou ficar calado!
Um abraço verso

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