PREVISTO SANEAMENTO DE MILHARES NA EDUCAÇÃO


Sala com as mesas dispostas em u,
somos aproximadamente cinquenta professores do Departamento de Línguas.
Uma acta foi lida e aprovada. Acta excelente, devo acrescentar.
Como eu mesmo gosto de escrever.
Quando a meada da ordem de trabalhos começa a desenrolar-se é que ficamos a saber
de modo límpido e trespassante
com que leis e dispositivos novos e criativos anda o Ministério
a tentar e a conseguir foder connosco.
lkj
Há uma pressão por resultados, por 'boas notas', por 'sucesso' educativo de aviário,
tal vontade de onerar e responsabilizar os professores
quando esses resultados faltam,
que eu digo tratar-se da mais vergonhosa violentação,
associando Ministério, certos lóbis de pais, e entalando do ónus exclusivo da culpa
os professores. çlk
lkj
Porque quem tem de pagar a factura são os professores.
Nós, os professores é que temos culpa dos jovenzinhos de 15 e 16 anos
a viver maritalmente com as primas divorciadas e com filhos,
de 28, enquanto os pais emigraram do problema de terem tido filhos.
Nós, os professores é que temos culpa se um menino entretanto
descobre o prazer, pelos vistos infinito, na língua imensa de um Serra da Estrela
sobre o seu pénis erecto nas noites em que ninguém está a ver
até ser surpreendido e fugir com ele na mão. Nós, os professores é que temos a culpa
dos divórcios, do desprazer do estudo, da insegurança e do desinteresse que nascem em casa,
da violência gratuita sobre nós,
dos desequilíbrios vários,
várias misérias que interferem nos números desejados pelo Ministério.
lkj
O regime espartano que actualmente rege de medo e rigor a docência,
e que vigora de norte a sul, veio de facto moralizar comportamentos e atitudes laxas,
fomentando a responsabilidade, o cumprimento dos deveres presenciais importantes,
o empenhamento físico, psíquico e anímico de quem queira estar na carreira vocacionado
e dedicado.
lljk
Mas, de repente, nada disto é verdade. Os alunos desaparecem do sistema,
leccionar é secundário. Na era da informática, o Ministério dos portáteis,
que anda a
foder com os professores,
tem preparado para eles um processo saneatório
que Noruega nenhuma viu alguma vez: uma montanha de mapas, planos, papéis e mais papéis,
relatórios, entrevistas multipassoais e multi-organizacionais, pareceres - lixo,
toda a trampa inútil, todo o oco, que mais ainda desgaste e desanime,
mais ainda, se é possível!,
foda com os professores.
lkj
Na verdade, a máfia anda lá em cima e faz tudo para cobrar.
A mim, o Fisco veio penhorar-me as cuecas, levou-as e há-de voltar para penhorar-me
os pêlos do cu para encher fronhas. E o Ministério da Educação, o mais sem-vergonha
que Portugal já vez viu, inventou uma polé (vejo o sorriso de nojeira
dos secretários de estado atrás da inominável) - o Documento da Ignomínia Avaliadora.
kjh
Gosto de ensinar porque gosto de semear mansidão e de alunos
que ajudamos a crescer livres, com todo o potencial humanista, sensato e sensível,
que transformará o mundo. Mas vem o Ministério e monta uma pirâmide de papéis,
de burocracias, irresponsabiliza ainda mais os alunos,
abre caça demissionária e extintora dos docentes que cá sobejem.
Imaginem um perfil de avaliação que monta tal devassa às pessoas com filhos e anos
de ensino, as quais, como eu já vi, começam a sentir-se inseguras, a acusar colegas,
a vigiá-los de perto, tutelares e bufos, tentando comprar as suas costas quentes,
e dentro de um estilo de denúncia e de exposição,
nem assim se livram de fazer a dança do pânico.
lkj
Lembro-me de uma professora de História, mulher trabalhadora e dedicada à escola,
omnipresente nela, omnisciente nela, não apenas profissional, mas extra-profissional,
obediente às papeladas, de um profissionalismo transcendente e assexuado,
viúvo e órfão de outras obrigações, mesmo tendo-as. Porém, era achacada a tais
calinadas linguísticas que não me admiro não passasem impunes aos avaliadores.
Uma mulher e mãe assim, com este calcanhar, passa ao ataque.
Ataca quem estiver mais à mão, para poder prosseguir e sobreviver.
lkj
Eis as baixezas que um Ministério ao serviço do corte pode gerar!
Muitos professores, caso sejam assim molestados, por poderem salvar-se disso,
e não estarem para ser massacrados, maltratados, encostados às cordas,
dirão adeus à carreira, adoecerão, sairão da frente, aliviarão o sistema
e a sua sofreguidão gestionária por números.
lkj
Mentindo, mentindo sempre e muito, um Ministério assim irá comer professores,
triturá-los e palitá-los dos dentes sem uma reacção massiva
revoltada?! Não sei responder. Sei apenas que há quem se mexa e conteste.
Há quem, nos sindicatos, desenhe e explique os contornos de este saneamento
ao professorado português. Greves?
As greves não servem de nada. Um Governo que não fica atrás do pior do chávezismo,
no constrangimento dos números e dos impactos das constestações
sairá sempre por cima das greves, de quaisquer greves.
É tempo de ser mais imaginativo.
Criar modos de reacção mais eficazes e duradouros.

Eu confesso, educo os meus alunos para a insatisfação,
para a des-cretinice da desumanidade, para o melhor e mais mobilizado espírito de grupo.lkj
Nesta reunião, falamos ainda dos processos de branqueamento dos números,
das vitórias mentirosas nos exames da Matemática, de como a coisa habilidosamente se faz.
O Ministério que fode com os professores não pode nem vai parar de acoçar pessoas
e aperfeiçoar processos sofisticados e imperceptíveis para
foder com os professores.

O perfil insuportável e incompetente das consoantes e das vogais de este Ministério iníquo
não é passível de inflexão. Só por despejamento compulsivo
ou ruptura da insuportabilidade imagética acrescida
haverá condições para respirar novos ares, superar o clima de guerra instaurado
por um Mininstério empossado só para
foder com os professores.
çlk
As rodas novas que rodam por cima das Estradas de Portugal rodam por cima das pessoas,
com o mesmo atabalhoamento e metas orçamentalísticas: é todo um não olhar a meios
para sacudir as pessoas do miolo da despesa pública (por ser mais fácil e não tocar
nos grandes interesses, nos grandes beneficiários de este grande redil passivo e passento
chamado Portugal) e de que também faz prioritária parte
foder com os professores.

Comments

quintarantino said…
Tás tramado, Fellini...
quintarantino said…
É uma forma de dizer... uma forma de dizer!
Pata Negra said…
Será ser professor uma forma de masoquismo?!
O professor é o artista que tenta permanentemente fazer a obra que nunca chega chega a revelar os primeiros traços - há sempre alguém que vem por detrás e borra tudo!
Um abraço de giz

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