RASGÕES NA CARNE
Introspecciono-me. A minha noite começará agora mesmo.
Há uma árvore de natal lá na Avenida dos Aliados. É enorme e metálica.
Uma multidão automobilizada que voga sempre ao sabor de estas coisas
veio há uma semana aprisionar-se no trânsito nocturno a fim de poder beber
aquela luz portuense inaugural.
Penso no meu blogue, no frio que faz já e neste silêncio preliminar.
Penso no poder enquanto fenómeno concentracionário. Penso que todo o poder
compete por mais espaço que aquele de que realmente necessita.
Visa tornar-se um absoluto. Aspira a ser indiscutível.
Com efeito, está frio.
Estou só.
lkj
Há uns dias, um dos anunciantes online a que aderi
e que anunciara nesta página ao longo de quase três meses, suspendeu a minha conta.
Mais um, a juntar ao Adsense. Assim, abruptamente. Averiguei.
Fiz o login e havia lá uma mensagem engripada e depenada de sentido: "Dear , " tal e qual,
só isto: "Dear , ..." Sem o meu nome. Mais adiante, duas ou três linhas
onde se argumentava a falta de qualidade de este blogue como razão determinante
para a imediata suspensão dos seus anúncios.
Não me emocionei.
Não esbocei a menor reacção contestatária.
Mantive-me frio: BIDVERTISER, tal como a GoogleAdsense
e certamente outras companhias igualmente abutrinas a explorar um admirável mundo novo
de oportunidades e de papalvos passentos à hipótese de ganhar alguns euros
sem descolar o cu do assento, praticam uma lógica desonesta com vítimas passivas e ansiosas,
crédulas e ingénuas, como eu.
Mas como eu pelo menos durante algum tempo. Impossível por todo o tempo.
Têm o poder de o fazer. Desrespeitam o indivíduo, mas não imaginam a perda de credibilidade
e a autodestruição em que incorrem com este tipo de procedimentos.
A meus olhos, ficam manchadas de abuso e discriminação. Que se danem!
É a mesma tonalidade lesa-indivíduo que as nossas sociedades praticam.
Esses dentes serrilhados dos Bancos piranhescos,
esse desequilíbrio injusto de vencimentos e regalias,
essa construção activa e deliberada de um sociedade com cidadãos de segunda
e de terceira, sendo os de primeira completamente intocáveis,
faz do Ocidente e de quase todo o mundo que o imita e aspira a ele,
um território do mal e da vergonha, democraticamente ilusório. Nada mais.
Esse cinismo, esse circo permanente desaguando da boca dos nossos governantes
é somente o sinal mínimo de uma corrente que se abrutalha e triunfa selvática.
lkj
Sem o apoio mínimo dos meus familiares, eu estaria eliminado, na rua.
Sou já informalmente um sem-abrigo,
Faço parte dos eliminados e dos excluídos, esses que crescem para além do discurso
nirvanesco do Ministro Vieira de Castro.
Somos pessoas que podem até ter um vencimento durante certo período do ano,
mas que é reabsorvido inteiramente nas engrenagens sugadoras de todas as instâncias
públicas e privadas que nos sugam e agora a palavra está dada:
máxima cobrança até ao final do ano significa perseguir e vitimar, dentro da lei,
quem não tem qualquer saída ou alternativa. O que o Fisco fez comigo não é perdoável
porque ignorou completamente a responsabilidade da instância bancária,
o seu oportunismo, o seu fechamento de arquivos, notas, informações,
que completamente me ilibariam da negligência de que fui acusado e coimado
e punido e miserabilizado.
Os erros acontecem. São mais fáceis de acontecer com quem é só e é fraco,
com quem não paulo-pederoso-beneficia das isenções e das pressões
sistémicas do lóbi partidário. Já li algures: sem seita, sem lóbi.
Sim, o blogger Miguel, do Combustões. Talvez já haja e se insinue o lóbi dos sem lóbi.
Sei lá...
lkj
O que me gelou os ossos ultimamente foi ter ouvido a um dos meus alunos,
por sinal um dos mais inteligentes e brilhantes, o quanto admirava no estilo José Sócrates
precisamente o tão verberado autoritarismo como algo positivo, disciplinador.
Era numa aula. Isso veio a propósito de nada.
Ser adolescente deve ser isto. Gostar de quem manda. Gostar da aspereza do mando duro.
Ir em pelotão a defender uma Berlim sitiada e condenada,
onde se enforca sumariamente qualquer odor a deserção.
Ter de obedecer por haver quem manda à bruta e ser isto encantador.
lkj
E fiquei assim: gelado.
lkj
A pensar que há qualquer coisa de adolescente nas sociedades
que reclama pancada, coça velha, moralização. Um país dócil assim é o paraíso.
Portugal, três países dentro de um rectângulo.
Um banca forte e competitiva internacionalmente um dia, depois de nos esmifrar.
Um pequeno grupo de empresários e abençoados de recursos,
de políticos e dirigentes com sentido do ganho e do autobenefício infinito e legal.
Uma massa de escravos do trabalho,
de desempregados, de doentes, miseráveis, infortunados,
daca vez mais miseráveis, desmoralizados,
sentindo na pele o peso dos dois países em cima de si-país.
É fácil governar sobre sobre a massa bruta estrategicamente embrutecida,
sobre um povo dividido e desigual. É fácil governar sobre três países dentro de um.
çlk
É fácil! Ah! Meus Deus, que tristeza:
leis que imitam as lógicas eliminacionistas do universo nazi,
modos de pensar temerários quanto à vida nascitura,
vaidade em cascata, orgulho em abismo determinou o aborto à vontadinha
até às dez semanas mais ou menos.
Esta amizade com o Diabo engrossará o poder em quem já o tem.
Hitler e o Diabo foram dois bons amigos. Beneficiaram-se recíprocos,
enquanto a liberdade magoada não soube emergir.
Calcado aos pés, Deus não tinha argumentos para o Darwin florescido no Partido Nazi
ou o Darwin incubado no Partido Comunista.
Não matarás! Mas não matarás porquê, se sou mais forte?
Mas não matarás porquê, se tenho o poder discricionário de suprimir bebés
no estágio de fetos?
Não matarás porquê, se posso chantagear e dobrar o disposto no Código deontológico
por não ser pragmático, descritivo da realidade e compaginado com o veredicto referendário?
Há um Amazonas inteiro de vítimas que transborda do seu leito.
Há um cálice de indignação que se enche.
lkj
Esse boomerang de insensatez regressará agressivo, devolvendo violência aos violentos.
O Diabo passeia-se de mãos nos bolsos pela cidade. Assobia.
Sorri triunfal porque todos o acolhem, a lei protege-o
e reserva-lhe os seus acepipes-iguarias humanas para pedófilos.
As cúpulas resguardam-no e resguardam-se nesses sinais de desumanidade,
nessas negociatas tecidas nas clínicas de sangue. E quem não pode nem sabe defender-se
está só. O Diabo de Norman Mailer, que embalava Hitler e o beijava fêmeo e paternal
na fronte, que o salvou da Valquíria,
passeia-se hoje por aí desalmado e insensível no mesmo circo.
Comments
Um abraço dum igual
Apesar de eu não gostar de só comentar com tais termos, amigo Joshua, porra, grande texto.
Não te preocupes, já não é o primeiro "bicho" desses que diz a mesma coisa.
por falar nisso, tu andas meio fodido isso já todos topamos mas mantêm-te firme e hirto... vai lá ser agora uma mensagem pré-formatada que te vai amandar abaixo... não pode. aquele abraço.