DE BOAS INTENÇÕES ESTÁ ESTE MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CHEIO


Quem ouviu ontem com atenção a Ministra da Educação
não encontrou o discurso do desgaste desprezivo da figura do professor
ou o discurso de maldição desvalorante do professor
enquanto tipicamente irresponsável e tipicamente em fuga da sua missão na Escola,
praticado por si e pela sua equipa ao longo de mais de dois anos,
publicitado por si e pela sua equipa ao longo de mais de dois anos
com os respectivos dividendos caucionadores da sua política na chamada Opinião Pública
ou Opinião de Rua, instintiva, reactiva, superficial.
lkj
Quem a ouviu ontem, encontrou um pensamento orgânico,
de missão quase cumprida
quanto às chamadas reformas dentro do Ensino em Portugal,
onde boa gestão e rigor pareciam ser legítimas metas.
Agora, segundo ela, tudo está tudo no seu devido sítio:
os professores estão nas escolas,
os alunos estão nas escolas e crescem como cogumelos,
e mesmo a Escola também está na Escola após mais de trinta anos em Marte.
Fará parte, talvez, da sua estratégia ter sido na primeira metade do mandato
implacável, conflituosa, fracturante, para emagrecer a bem ou a mal o Sistema,
e na outra benevolente, humanística e até estimulante da missão docente?
Cruz credo!
Certo é que certas entrevistas, onde se sorri mais
e se tem mais paciência perante perguntas incómodas,
onde se argumenta afiadamente em autodefesa encomiástica,
lavam mais branco. A Judite nem chega a arranhar, perguntando,
um quinto do historial perturbador subjacente a tal percurso.
Empalideci quando a Ministra verberou o autoritarismo
face à normalidade de quaisquer rectificações e intervenções
na Lei por parte da respectiva Comissão de Acompanhamento
do seu grupo parlamentar. Está tudo previsto e tudo sob controlo.
lkj
Considero o Estatuto do Aluno uma coisa por testar,
mas de duvidosa eficácia porque não replica os modelos de responsabilização
plenos a que qualquer profissional se submete
ou lerpa. Os docentes viram decrescer a sua margem de tolerância no plano das faltas
para o bem e para o mal. A mesma intolerância deveria ser então transversal.
Houve outros momentos em que Maria de Lurdes
foi mais acintosa e politicamente ainda mais autista que nesta questão
adressando elefantinamente o Estatuto do Docente enquanto loja de porcelana
e sem quaisquer consequências.
Não me alegraria, portanto, que se demitisse agora
quando já padeci de mais e estou morto de mais,
soterrado nesta Carreira Docente, depois de um ano terrível
a gerir todas as contradições desniveladas do Estatuto do Aluno
em face do meu estatuto igual-a-zero-de-Professor
e o de muitos colegas
legitimamente desmoralizados de um desânimo estrutural e conjuntural:
a polícia deveria poder intervir de imediato numa sala de aula
onde a figura do professor é ostensivamente esmigalhada.
Mas também deveria intervir numa Escola onde se perde
mais tempo a discutir a Lei e as medidas de salvaguarda dos professores,
a tremer de terror ante a infinita força conspirativa do Ministério e dos Pais,
esse verdadeiro lóbi-tenaz altamente condicionador da acção docente,
que a considerar efectivamente os alunos por si mesmos.
Se a polícia viesse, deveria levar esses docentes para uma sessão de tranquilização
medicamentosa numa cela terapêutica qualquer,
apenas para protegê-los e dar-lhes razão
porque as suas paranóias não vieram do nada.
lkj
No que diz respeito às alterações ao chamado Estatuto do Aluno,
só me vinha à mente a ideia de que não há ninguém que force,
não há castigo que resolva um aluno abSentista
(não abzentista, como diz a Ministra),
não há prova a que um aluno assim se submeta ou que seja vista por ele como castigo.
Eu vi alunos faltosos deixarem em branco Provas abaixo das suas capacidades cognitivas
não apenas porque não sabiam, mas sobretudo porque não queriam saber.
Um aluno faltoso é um aluno em rebelião com as regras,
em rebelião com os convencionalismos,
em rebelião com os paternalismos,
em rebelião com os conteúdos,
em rebelião com os professores,
em descrença completa e quase irremediável da Escola e de tudo
e faltar é mais forte do que ele, além de ser uma mensagem provocadora à Sociedade.
lkj
Alunos assim, como os que conheci e me adoeceram de morte,
estão para além dos Regulamentos Internos:
precisam imediatamente de uma Junta Médica
com uma task-force de bons Psicólogos,
não das tretas duvidosas que se pretendem legislar.

Comments

Tiago R Cardoso said…
Eu também assisti e fiquei com a impressão que esta senhora atingiu o nirvana e como já escrevi lá no Notas, estamos no bom caminho muito perto de chegar à perfeição.
antonio ganhão said…
Oh! Joshua, "os professores estão nas escolas,
os alunos estão nas escolas", qual foi a parte que não percebeste?

Estão todos na escola e custam pouco dinheiro. Agora isso de estatuto dos alunos e demais sucata ideológica não interessa nada. Quem quer ter os filhos numa escola com todos esses predicativos e pedagogias e motivação, etc... que pague e coloque os filhos numa privada.

Eu não quero gastar o meu dinheiro em mariquices! Fico feliz por ver que finalmente voltamos à normalidade.
Ricardo Rayol said…
Visite o blog EducaFórum e veja aspectos da educação pública brasileira inusitados, para não dizer bizarros.
quintarantino said…
Eu náo vi, não vi, nã vi... e pronto. E tu, cineasta da escola italiana, perdes tempo com essas coisas....
O que é bem verdade é que a educação anda no Marte durante exactamente 30 anos; entretanto, ainda não votou à Terra.

O que Ministra alcançou é uma poupança, e tem toda a razão de estar contente; muito embora devia estar mais preocupada com os assuntos pedagógicos. São esses últimos que projectaram o nosso Ensino até ao Marte, pois o cérebro humano não é capaz de aprender pelas maneiras que os doutos educadores inventaram. A incompetência pedagógica elevada ao absoluto ideológico de ignorância faz verdadeiros milagres tecnológicos ...

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