CAVACO, ZARANZA CONVENIENTE
Imaginemos que Cavaco procedera com cálculo eleitoral objectivo, aquando do seu silêncio prolongado na matéria das escutas e que, por omissões sucessivas, manifestara gravosa inépcia e inabilidade na gestão de tal problema obscuro, agravando-o numa escalada de fragilização da própria Presidência. Mesmo assim a verdade é só uma: os coiotes e as hienas do sistema político português logo se apressaram a senilizar o Presidente, eliminando-o politicamente, abatendo-o sem apelo nem agravo. Hoje aparece completamente isolado, alvo do escárnio de Ana Gomes, o que é lisonja, alvo da devastação argumentária de variados Filipe Tourais, objecto dos insultos sibilinos do Governo, contestado e autopsiado por qualquer blogger e blogue engajado como este, e é assim que o grande combatido e desprezado de Mário Soares aparece confinado na cena política portuguesa, passando ele pelo exclusivo urdidor de conjuras, pelo único perturbador do "normal" funcionamento da "democracia". Na verdade, o trunfo dos porcos vigora claramente em Portugal. Saem a perder os menos calculistas e menos capazes de perfídia. Saem a perder os detentores de uma rectidão rara, apesar de todos os defeitos e défices políticos. Nunca se leva a melhor, neste mundo de homens, em relação àqueles que vivem do lodo e para o lodo moral. Podem pois rafastelar-se no esgoto e no reles os que hoje desqualificam e apodam de zaranza Cavaco Silva: «É o primeiro encontro de Cavaco Silva e José Sócrates depois das eleições e da troca de acusações em torno do chamado caso das escutas.»
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