UMA FORMA DE MATAR O PRÓXIMO
Exigiu-me 200 euros, o mês completo, após catorze dias. «100 euros», propus. Estivera ali vinte e seis dias. Pagara-os como um mês completo. Continuara por lá depois mais dez dias, começo de um novo mês. Queria e podia mudar-me agora para um lugar muitíssimo melhor e pagar muitíssimo menos. Metade. Ali, por 200 euros, um quartinho lúgubre, comida fria, cama curta, torta, do lado de dentro, e, do lado de fora, cão ladrante, pomba arrulhante ou rola, janela mal-fechante, insónia constante, não me era mais possível nem razoável permanecer. Mas ela não cedeu. Hábil, habituada a argumentar velhas justificações e desculpas, atirou: «Não. São 200 euros»; «Se me dissesse há mais tempo... Podia ter alugado esse quarto, se me tivesse avisado...» A avareza é uma forma de matar o próximo, último luxo a que se dão certas mariposas ofuscadas pelo lado mais mortífero da Luz.
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Terás de procurar outro.