OBAMA, UMA DIMENSÃO CÍNICA
Quem de facto deveria receber o Nobel da Paz era o cluster militar dos Estados Unidos. Tal cluster possibilitou um homem como Obama, com o seu discurso islamo-desanuviador, planetário-multilateral, humildista, sanitário-social interno. Poderia não o ter permitido. Agora que têm domesticado o Presidente, devem sentir que valeu a pena. Paradoxalmente, foi também o Apartheid que engendrou Mandela. Emaranhado numa teia de poderes insondáveis de raiz bélica, Obama serve de disfarce perfeito ao Poder Real que governa os Estados Unidos por todo o sempre-amén, títere após títere, actor após actor. Obama não pode senão fazer discursos e fazer lacrimejar milhões com ilusões. Isso basta para a Paz. Gosta-se de um Obama como de esse Cristo paradoxal do Sermão da Montanha, igualmente pacífico que faz transpor para o Além toda a retribuição divina aos que choram, sofrem, operam a Paz, morrendo por ela. As máquinas de carisma, que produzem estrelato político, têm puros-sangue, como Obama, Ronaldos nas roldanas lucrativas dos media planetários, mas também têm ovelhas negras, repletas de ronha, babosas e grunhas, como Putin e Sócrates, urdindo poder, muito poder, todo o poder possível, na sombra e às escâncaras, perante a abulia da maioria dormente. Na verdade, temos de aturar esses cruzamentos e cobrimentos inter-espécie que originam raças de víboras e sepulcros caiados. Mas também magníficas ilusões inspiradoras, como Obama: «Obama fez do desarmamento nuclear topo das prioridades da sua política externa, relançando negociações com a Rússia e fazendo mexer o tabuleiro internacional no sentido de pressionar as duas consensuais “potenciais ameaças” nucleares (Irão e Coreia do Norte). Outra prioridade é reactivar o processo de paz no Médio Oriente.»
Comments
Este Obama domesticado ainda não percebeu que só ele pode acabar com a escalada da guerra no Afeganistão da mesma forma que só Bush, enquanto presidente, a podia ter iniciado.
Porque não basta ser-se Bush, é preciso ser-se eleito presidente dos EUA, tal como não se basta ser esperança. mas há que cumpri-la.
Ao prolongar Guantânamo, o embargo a Cuba e forçar uma escalada no Afeganistão, Obama, que definitivamente não é igual a Bush, veio no entanto conferir-lhe alguma razão nas suas opções. De alguma forma, estes três casos protegem os interesses dos EUA, ou seria muito fácil acabar com eles.