
Esta é uma vitória do silencioso e humilde Domingos e uma derrota do recente Jesus, insuportavelmente vaidoso, que a pouco e pouco foi surdindo, de altivez em altivez, de petulância em petulância. Sem qualquer necessidade. Aflorou demasiadamente um Jesus diabólico nas ganas, em tons de novo-riquismo futebolístico e tiques doutorais nas conferências de imprensa como grande iluminado em nirvana técnico-táctico. Um Jesus ufano e inchado à medida das vitórias esmagadoras e muitas vezes inflacionadas do seu Benfica, afinal de carne e osso, como se pode ver. É nobre baixar a crista e ser humilde antes que a queda ocorra, ainda que a realidade predominante para nós seja um tapete púrpura estendido à nossa passagem incontestada. Jesus tem sido pouco Jesus, o Messias, e mais humano e cadente nas tentações do seu deserto: «Se te prostrares diante de mim e me adorares, tudo isto será teu.». É preciso mortificar o Orgulho, abraçar a Cruz, compreender a grandeza de vencer sem precisar de vexar. Glória vã a de trucidar por palavras prévias e posteriores os adversários, em vez de os trucidar exclusivamente por golos e futebol convincente. Eis um dia de festa para todos os anti-Jesus, já agora também eles fracos e equivocados no extremismo da rejeição ao notável treinador. Nada contra um Benfica de bom futebol actual e menos ainda contra o excelente trabalho do seu treinador. Tudo contra a grunhice no processo celebrativo de alguns totalitários do benfiquismo, Jesus incluído. Tudo contra a violência benfiquista contra quem sinta outros clubes e se pronuncie com liberdade sobre esse clube extraordinário; tudo contra as ameaças e as tresleituras de muito adepto benfiquista preguiçoso em interpretar quem pense e escreva sobre o seu grande clube sem porém o amar como adepto. A propósito, claudicando o Benfica perante a equipa de Paciência, o que babujará A Bola amanhã na sua primeira página?!