GRAVE GERAL
Seja pelo assédio continuado aos nossos magros bolsos 2,1%,
seja pela compressão desumanizadora
com que nos comprimem de encargos burocráticos
onde toda a nossa acção é de proximidade humanizadora,
de enquadramento dos saberes pela mediação dos afectos
ou afinal o que é ser Professor?,
respondam vocês que vos afadigais a famigerar de infâmia
a outrora prestigiosa e famosa profissão?,
seja pelas cotas com que nos pretendem abusar de aleatório avaliativo,
as cotas de 'Excelente', as cotas de 'Suficiente', as cotas de 'Insuficiente',
estamos e estaremos em Greve até que a voz nos doa.
lkj
Pela parte que me toca, estou em Grave.
Grave é o que sofro às mãos sofredoras do trabalho para que me vocaciono, o Ensino.
Grave é ao que tenho de me submeter compensatoriamente nos part-times
que houver para fazer face à sustentabilidade da minha vida familiar e profissional.
Grave é não me chegar o dinheiro com que me chago e sacrifico
para pagar caro o caro que é tudo, por muito que me contenha e sacrifique.
Grave é ter mais de uma década a coleccionar
toda a espécie de subespécie em matéria de precaridade.
Grave! A minha vida é um Grave Geral que olha outras Graves Gerais
como eu, provisórios e precários, como eu, endividados e aflitos, como eu.
lkj
O meu olhar agrava-se de perplexidade em face
da tecitura injusta e assimétrica de que se faz a sociedade portuguesa,
feliz e avançando, mas para indiano e estrangeiro ver.
Qual a vantagem de tanta desigualdade e esmiframento dos pequenos
para o conjunto da economia portuguesa?
Se o dinheiro é de poucos, se o dinheiro não circula senão pelo poder de poucos,
em última análise toda a economia vai paralizando e estagnando.
É grave, muito grave, que, na verdade, em Portugal a riqueza produzida
não se partilhe nem se distribua.
Para que este Grave cesse a sua Gravidade galopante será necessária
uma completa Revolução de Criatividade,
uma Criatividade gerada
a partir do mais completo sofrimento social vigente.
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