AGRADECER TUDO QUANTO O JOÃO OUSOU

Vivemos em liberdade, mas numa liberdade reservada, limitada, sujeita a silêncios ou a represálias subtis de que não convém falar porque falar é ou pode ser bad for business. O fim do Jornal de Manuela Moura Guedes, a saída de José Manuel Fernandes da direcção do Público, o término da colaboração de João Miguel Tavares como colunista no DN, são factos que, por si sós, não querem dizer nada. Mas dizem. Coço na cabeça e pergunto-me aonde irei continuar a ler o João, enquanto lhe agradeço, como leitor, tudo quanto ousou: «Isso não significa, contudo, que a nossa sociedade tenha uma cultura de efectiva liberdade, como o jornalista Ferreira Fernandes bem sabe. Do mais obscuro assessor ao ilustre procurador-geral da República, a cultura do esconde-esconde é transversal ao aparelho do Estado e a todas as instituições do regime. E isto não é uma opinião - é uma evidência que qualquer jornalista pode testemunhar. Quer isso dizer que é preciso uma coragem desmedida para opinar em Portugal? Não, não quer. E sou testemunha disso mesmo. Eu comecei a escrever uma coluna no DN em Julho de 2003, e desde então tenho distribuído todas as semanas as minhas opiniões pelas páginas deste jornal - ou, como diria Marques Lopes, "achei" sobre tudo e mais alguma coisa. Tive como directores Mário Bettencourt Resendes, Fernando Lima, Miguel Coutinho, António José Teixeira e João Marcelino, e nenhum deles jamais fez qualquer observação sobre aquilo que escrevi. Nesse aspecto, o DN sempre foi, para mim, um espaço exemplar de liberdade. Não sou dado a nostalgias, mas no momento em que, ao fim de seis anos e meio, termina a minha colaboração com este jornal, gostava que isso ficasse bem claro. Sou um privilegiado num país em que muitos não têm a mesma sorte do que eu. A liberdade não se agradece. Terem-me lido, sim. Muito obrigado.» João Miguel Tavares

Comments

Vais continuar a lê-lo no CM. Abraço
joshua said…
Abraço, João. E obrigado.

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