INTENÇÕES MAGNÍFICAS. NULIDADES TENEBROSAS
«Os altos índices de popularidade alcançados por Lula, como não o foram “nunca antes na História deste país”, não são, contudo, um fenómeno paroquial, uma esquisitice tropical num universo estranho. Como se sabe, nosso guia providencial dos povos da floresta, da roça, do açude e da transposição do Rio São Francisco, é o cara (that's my man) do homem mais poderoso da Terra, Barack Obama. Há entre o menino que teve o picolé recusado pelo pai sob o pretexto de que não sabia chupar e o primeiro mulato a ocupar a presidência dos Estados Unidos da América muito mais afinidades do que pode supor nossa vã historiografia. Mas isso não se tem comprovado em seus sucessos evidentes, e, sim, em seus fiascos ocultos. Como esse sofrido por ambos na Conferência do Clima em Copenhague semana passada. Protagonistas de reuniões que partem de intenções magníficas e terminam em nulidades tenebrosas, ambos fazem parte de uma geração de estadistas pigmeus que de tanto se preocuparem com o que oferecer aos eleitores nas próximas eleições se esquecem do mundo que estão destruindo para as próximas gerações. Os dois se assemelham ao descendente de húngaros Nicolas Sarkozy, que só se aproxima do corso Napoleão Bonaparte na estatura física, distanciando-se do exemplo de antecessores em seus postos. Como Abraham Lincoln, que fez a guerra civil para garantir a unidade da confederação americana, e Dom Pedro II, sob cuja égide foi consolidado o domínio dos brasileiros sobre este território semicontinental onde estamos instalados. Tanto eles quanto outros conduzidos que se fazem de condutores – Sílvio Berlusconi na Itália, Angela Merkel na Alemanha, etc. e tal – são hábeis comunicadores, capazes de encantar e engabelar as massas, mas inaptos para pôr em prática o verdadeiro sentido de governar: escolher metas a cumprir e persegui-las. Obama tem a habilidade de encantador de serpentes quando discursa. Lula põe as velhas raposas felpudas da política brasileira nos chinelos quando se trata de dizer a um interlocutor o que ele quer ouvir, seja individual, seja coletivamente. Mas nenhum dos dois tem a ousadia de enfrentar adversidade alguma para traçar o caminho a seguir, seja para resolver os impasses do comércio internacional, seja para evitar a tragédia ambiental que se abaterá sobre nós se providências não forem adotadas. Aos problemas que surgem respondem: “não é comigo.” Aos que podem postergar reagem: “resolveremos no ano que vem.”» José Nêumanne [Postado por Luíz Leitão]
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