MANSUETUDE DA DESPROCURADORIA
Portugal assiste ao fim do Regime instaurado em 1974. Mas isto não vai sem dor, sem ridículo, sem fretismo: a absoluta degradação política, económica, financeira, justiciária e social vai já adiantada. As famílias de emigrantes que enchem os aeroportos nacionais, famílias que toda a vida se sacrificaram na Bélgica, em França, na Grã-Bretanha, na Alemanha, em Newark, na África do Sul, não saberão o que pensar nem o que dizer quando isto entrar na bancarrota e todas as verdades por agora sufocadas vierem à plena luz da revelação. A divulgação do conteúdo e do destino dado às escutas do processo Face Oculta em que intervém o primeiro-ministro José Sócrates é um assunto incontornável e dele foge o Procurador com um terror impressionante, pobre pequeno títere nas mãos de quem designou, tigrezinho nas costas do macaco de serviço. Depois do procurador-geral da República ter sido obrigado a recusar a divulgação dos despachos sobre este processo, após, uma vez mais, ter largado uma laracha do tipo, «Por mim, divulgava a porcaria das escutas só para sossegar isto», agora desmentida e contraditada, é forçoso que o País, por abaixo assinados e opiniões com tomates, faça um expressivo requerimento por que sejam tais escutas [aterrorizadoras para Sócrates] divulgadas e assim sanadas todas as dúvidas sobre a sua conduta há muito sob toda a espécie de especulações, entre o dúbio e o dubitativo. Nos Estados Unidos não resistiria nem mais um minuto. Na parvalheira, há quem o chupe. Cansa já ver sistematicamente invocados pelo sr. Pinto de Sousa os argumentos de fuga em frente tipo "campanha negra", "maledicências", "ataques pessoais" e de "carácter" sem que por sua defesa e absoluta clarificação de águas mova uma palha. Prefere flanar fantoches, atirar toda a espécie de figuras medíocres e menores a proteger-lhe as costas, coisa que nem sabem fazer pois tremem como varas verdes e dão uma no cravo e outra na ferradura. Quem nos esclarecerá a natureza do expediente de arquivamento das certidões relativas a escutas do primeiro-ministro? Quem nos sossegará a percepção de contradição e dúvida sobre as condições do acesso ao dito despacho e à cabal informação? Pinto Monteiro recebeu ordens para manter o silêncio sobre o que o levou a decidir arquivar as certidões extraídas do processo Face Oculta, que investiga uma alegada rede de tráfico de influências. Da sua mansuetude rezarão as crónicas futuras quando explicarem que o Regime instaurado em 1974 explodiu, entre convulsões nunca vistas, por arrastamentos pastosos, por singelezas, por faltas de carácter e autonomia institucional como as acabadas de denotar por um dos bonecos preferidos do Grande Cromo Passerelle.
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Abraço
Karocha