EUFEMÍSTICOS «ACIDENTES DE CARÁCTER PSICOSSOCIAL»

A Europa não é a China. Provavelmente sob uma cultura de ultra-exigência em objectivos e ultrapressão psíquica, ao primeiro leite infantil, naturais ao obediencialismo cultural chinês, fosse improvável o volumoso número de suicídios de funcionários da FT porque violentamente reconvertidos; porque violentados com fardos adicionais às suas competências consolidadas em anos e anos de trabalho. Na Europa Ocidental, o prazer e a liberdade são produtivos; ser feliz e adaptado ao trabalho são factores de produtividade. Inumanidade e violência por parte das chefias; terror e insegurança por parte dos frágeis funcionários, pelo contrário, redundam nesse apelo silencioso a morte procurada, uma vergonha para a Europa da fruição estética e da cultura humanista. O balão de ensaio macabro passa-se e persiste na France Telecom, sem que, meses depois de detectado um padrão horrendo, algo tivesse sido feito: «Como outros 10 mil empregados, Rouanet tinha sido já obrigado a mudar de cidade, de Paris para Annecy, no quadro do programa de mobilidade dos empregados a cada três anos, sem direito a qualquer comparticipação por parte da empresa. As avaliações semestrais de objectivos cada vez mais ambiciosos, os contactos e emails recebidos durante os dias de descanso, somados à pressão diária dos directores para reduzir custos e antecipar a reforma de funcionários tinham-se tornado insuportáveis. Na terça-feira passada, dia da consulta com o psicólogo, era uma colega de trabalho que descrevia o mal-estar de Jean-Paul. "Ele morreu de sofrimento, entre a vontade de fazer bem e a falta de meios para poder fazê-lo". Jean-Paul nunca chegou a assistir à consulta de psicologia, na véspera lançava-se para o vazio do cimo de um viaduto nos arredores de Annecy, tornando-se no 24.º suicídio na France Telecom em 18 meses.» DN A peçonha inumana, porém, já grassa em Portugal.

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