A DEPUTAÇÃO COMO CLASSE OPRIMIDA
O 'excelentíssimo' deputado Ricardo Gonçalves aportou ao blogue amigo Aventar para largar um comentário bem intencionado, a seguir reproduzido na íntegra. Nele patenteia nula sensibilidade para com o esmagamento fiscal/salárial da esmagadora maioria dos portugueses. Nele deixa implícito a ideia errónea que alguma deputação faz do seu papel para com a população: a ideia de que não é papel nenhum, mas emprego, posto, serviço-frete lambe-botas antes de mais ao Partido-Máfia, como se sabe. Mais ainda: há ali um espírito de classe completamente descabido no contexto actual e em qualquer contexto. Seria lindo por isso mesmo que deputados classistas, como os deputado Ricardo Gonçalves e Ricardo Rodrigues, cada qual pelas razões devidamente publicitadas, renunciassem ao sacrifício de serem deputados, como alguém oportunamente sugeriu na caixa de comentários. Higiénico seria também que se instituísse na Assembleia, finalmente, o higiénico número mínimo deles, uma vez que o número máximo em vigor é mais uma nota obscena e injusta da Situação a somar a milhares de outras: «Ricardo Gonçalves (Deputado) Exma(o). Sr(a). São-me atribuídas afirmações que, no essencial, nunca proferi. São, por isso, falsas e injustas. Limitei-me a constatar o facto de que os políticos têm os maiores cortes nos vencimentos. Não critiquei esse facto, nem me queixei da situação. Sei muito bem as dificuldades e as angústias pelas quais os portugueses estão a passar. Disse - e mantenho - que os políticos devem dar o exemplo em todos os aspectos, devendo ser os primeiros a assumir as medidas de austeridade. Terão que se adaptar à crise, nem que para tal seja necessário abrir a cantina da Assembleia da República, à noite, para que lá coma quem quiser. Não vejo nisso nenhum problema, pois é um espaço gerido por uma empresa privada, sendo um sítio digno e aprovado pela ASAE. Em vários parlamentos da Europa a cantina está aberta ao jantar, sem que os opinadores lá da terra se escandalizem. Já foram tomadas medidas como cortarem os cafés e os chás que sempre eram servidos durante as reuniões das comissões. Mas tudo bem! Cabe aos políticos darem o exemplo. Há muitos anos que eu alerto para a situação difícil a que o país podia chegar. Hoje é necessário coragem e coesão para enfrentarmos a realidade. Nunca foi o dinheiro que me moveu na política, como facilmente posso demonstrar pelo meu património móvel e imóvel. Não concebo (nem tal pode ser permissível) que se trunquem declarações, nem que se inventem situações, como foi o caso de alguns órgãos de Comunicação Social terem afirmado que várias pessoas abandonaram a sala do congresso da saúde quando falei sobre os cortes nos vencimentos da Função Pública e dos políticos. É uma mentira. E tal é facilmente demonstrável. Lamento terem mentido propositadamente, distorcendo grosseiramente tudo o que eu disse e inventando malevolamente frases que eu não proferi em local algum, pondo em causa a minha honra e dignidade pessoal. Grato pela atenção dispensada, Lisboa, 14 de Outubro de 2010 O deputado Ricardo Gonçalves PS.: É muito interessante constatar que a alguns órgãos de comunicação social não interessa informar que os cidadãos, que estão a desempenhar temporariamente o lugar de políticos a tempo inteiro, deixaram - e bem - de receber a subvenção vitalícia, deixaram de receber o subsídio de reintegração, sofreram um corte, o tal simbólico, de 5% no mês de Maio, agora sofrem, tal como os restantes trabalhadores públicos, o corte de 9 ou 10%, para além do incremento da taxa de descontos para a CGA, ADSE e IRS. Há órgãos de comunicação social que falam nos salários sem esclarecer que se tratam de valores brutos aos quais incidem os cortes previstos, os impostos directos e as taxas a que obrigatoriamente estão sujeitos. Não é o meu caso pessoal - que interessa, - mas eu não me queixo. Nunca foi o dinheiro que me moveu na política e percebo perfeitamente a indignação de muitos portugueses que hoje atravessam dificuldades. Mas ninguém me pode impedir de dizer a verdade sem sofrer deturpações. Na actual democracia toda a gente pode falar, reclamar e protestar, à excepção dos que exercem missões políticas. No tempo do Estado Novo era ao contrário: só podiam falar os políticos da situação e o povo era obrigado a calar. Viva a democracia!» Sim, viva o gigantesco não-se-mancar-socialista!
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