FROUXO
Nestes dias, torna-se indiscutível sublinhar que o Mal é Mau e explicar porquê. Não basta ao Presidente da República ser boa pessoa, considerar coisas óbvias como Portugal estar a viver uma «situação particularmente complexa e mesmo grave», mas sem culpados, sem veredictos, sem saídas [ok, «o Mar», mas o mar serve sempre para tudo quando já não há mais nada]. A estabilidade de Cavaco é mórbida. A estabilidade de Cavaco merdaliquefaz a vida pública e as clarificações de que carecemos para começar tudo de novo. Uma crise política não «seria extremamente grave», como ele concebe. Seria, será!, a única-última coisa regeneradora, na economia e no resto. Um frouxo rei faz frouxa a farta gente. E está visto que estamos fartos da paz podre estável, fartos da pasmaceira estável de Cavaco. Priorizou a reeleição, cooperando com o bandido a quem deu o ouro e o salvo-conduto para chegarmos até aqui. Por isso, nada mais anormal que afirmar ter relações absolutamente normais com ele, Primadonna, e com os restantes inimputáveis da bandalheira abandalhante. Não bastava a fantasia louca de um, tinha de se lhe somar a loucura fantasiosa de outro.
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Por acaso já reparou na cumplicidade de Sócrates e Cavaco; aqui lhe deixo um resumo:
O que tolhe Cavaco Silva?
Em Julho de 2004 Santana Lopes toma posse como Primeiro-ministro.
Em Setembro de 2004 o alegado engenheiro Sócrates é eleito presidente do PS.
Em Outubro de 2004 na sequência das chamadas “trapalhadas” do governo presidido por Santana Lopes, Cavaco publica no Expresso o famoso artigo “A Má Moeda Expulsa a Boa Moeda” e com ele “autoriza”, incentiva, Sampaio a dissolver a Assembleia da República, o que vem a acontecer em 22 de Dezembro.
Como consequência, em Março de 2005, o ainda não admirável líder, torna-se Primeiro-ministro de Portugal.
Em finais de 2005 Cavaco Silva candidata-se a Presidente da República.
Contra ele, o PS candidata Mário Soares e, aparentemente à revelia do partido, Manuel Alegre candidata-se também.
Dada a divisão dos votos à esquerda, Cavaco ganha facilmente; em Janeiro de 2006 é eleito PR.
Durante quatro anos Cavaco, o tal que por causa de “trapalhadas” sancionou a demissão de Santana Lopes, assobia para o lado perante suspeitas de corrupção, compadrios, negociatas, perseguições a jornalistas, afundamento da educação e saúde, desbaratar de dinheiros públicos, etc., etc.
Só reagiu quando afrontado com o Estatuto dos Açores mas acaba por meter o rabo entre as pernas e não levar o braço-de-ferro até às últimas consequências; terá tido medo de quê?
Na véspera do início da última campanha eleitoral o Público, citando fontes próximas do PR, denuncia alegadas escutas à Presidência da República. Na altura Cavaco diz não ter comentários a fazer porque não quer interferir.
Manuela Ferreira Leite aproveita a deixa e reforça o slogan da “asfixia democrática”.
Em plena campanha, o Diário de Notícias dá à estampa o famoso e-mail interno do Público e, baseado no mesmo, sugere que as escutas eram afinal uma encomenda da PR para lançar suspeições sobre o amado líder.
Mais uma vez Cavaco reitera a sua intenção de não comentar escudando-se na sua obrigação de não interferência e promete investigações rigorosas para depois do dia 27; no entanto, quatro dias depois, demite das funções de assessor de imprensa Fernando Lima, o alegado autor da encomenda do” Caso das Escutas”, seu colaborador fiel há mais de 25 anos.
Este seu acto corrobora a denúncia do DN e é uma espécie de lavar de mãos que atira com a água suja para cima de um amigo e colaborador de longa data.
É de admitir que Fernando Lima tivesse agido sem o conhecimento dele? E, a tê-lo feito, porque não foi demitido logo que a notícia apareceu no Público?
Mas admitindo que hesitou, então qual a razão porque não adiou a demissão do seu assessor para depois do dia 27 evitando o quase esvaziamento da campanha de MFL?
Como explicar o comportamento de Cavaco?
(continua)
(continuação)
Quando das revelações das ingerências e tentativas de ingerência nos média vindas a lume com a publicação das escutas do processo Face Oculta, onde esteve Cavaco Silva?
É que este caso foi mais um em cima de muitos outros (As casinhas da Guarda, Falsificação das fichas da AR, Licenciatura na Independente, Compras de andares, Escrituras desaparecidas, Reforma da mãe, Cova da Beira, Freeport, Sobreiros de Setúbal, Assalto ao BCP, TVI, Mário Crespo, Público, Saída de Marcelo da RTP) que têm, directa ou indirectamente, sempre um nome associado; qualquer pedra, mais ou menos suja que se levante, esse nome aparece quase sempre.
Agora já não é só um Primeiro-ministro que está em causa; PGR e STJ também estão; comunicados e contra comunicados, declarações avulsas, o atirar da bola entre PGR e STJ, boas e más violações do segredo justiça, mãos pelos pés e pés pelas mãos, insinuações de encobrimento... e se a palavra mentiroso já era usual quando o PM era referido, agora, a ela também não ficam imunes os nomes do Procurador Geral da República ou o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
E neste caos, onde está Cavaco Silva?
É esta a boa moeda dele?
Segundo Almeida Santos, “todos os casos de justiça em que o nome do PM esteve envolvido deram em nada e este em nada vai dar”. A sua convicção pareceu-me demasiado profunda para que tenha por base somente a fé.