OS BOYS DA COBIÇA-PS III
Lê-se na Sábado que há três anos Ana Sofia Côrte-Real Tomaz era um quadro médio da Estradas de Portugal, coordenadora de Estudos e Projectos. Hoje, aos 35 anos, é vogal do Conselho de Administração da empresa pública, responsável, entre outras, pela importante direcção de concessões, e com um salário bruto mensal de 10.800 euros (151.000 por ano), mais viatura de serviço, combustível e telemóvel. Pelo meio, há um detalhe importante no seu currículo: foi assessora do secretário de Estado adjunto das Obras Públicas e Comunicações Paulo Campos, durante três anos. “Faz parte do círculo estrito de confiança dele”, conta uma fonte do sector. Ana Tomar foi nomeada para a administração da Estradas de Portugal (EP) no dia 23 de Julho deste ano, já depois do aumento de impostos anunciado no PEC 11 e pouco antes das novas medidas de austeridade previstas no orçamento. “A nomeação causou enorme surpresa na EP, quase constrangimento, porque Ana Tomaz não tem experiência de gestão e não é normal uma antiga técnica passar assim para o Conselho de Administração”, admite uma fonte do próprio Ministério das Obras Públicas. Em Setembro de 2008, foi ainda nomeada para administradora da Fundação para as Comunicações Móveis (FCM), gestora dos programas e.escola, que incluem os contratos e encomendas dos computadores Magalhães. Mas na primeira reunião demitiu-se. No Conselho de Administração da FCM está agora Daniel Adrião, ex-jornalista, também ele membro do gabinete de Paulo Campos. Adrião explica assim o seu percurso até lá: “Fui jornalista 10 anos. No Semanário e depois como colaborador da Visão. Fiz assessoria de comunicação em vários sítios. Em 2006 surgiu o convite para trabalhar com o secretário de Estado Paulo Campos e foi em função do meu trabalho no gabinete que fui para a FCM.” Adrião, que iniciou a militância política na JS (chegou a candidatar-se a líder), foi alguns anos responsável pela organização do Carnaval de Alcobaça e candidato à câmara local pelo PS. Na FCM, garante que não tem vencimento — receberá apenas senhas de presença, de 100 euros cada. Jorge Costa. deputado do PSD que esteve na comissão parlamentar que investigou a FCM, põe em causa a ausência de regalias: “O anterior presidente do Conselho de Administração reconheceu à comissão que houve pagamentos aos administradores.” Lê-se na Sábado que Adrião não atendeu o telefone nem respondeu a mensagens. O gabinete de Paulo Campos limitou-se a explicar que as nomeações se “baseiam no escrupuloso cumprimento da lei e recaem na escolha de pessoas com o perfil mais adequado para cada cargo.”
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