DESÂNIMO COLOSSAL

A última década, já apodada de Década Perdida, teve como traço distintivo a consolidação e alargamento da corrupção política em Portugal com a expansão massiva das clientelas directamente dependentes dos sucessivos orçamentos. À esterilidade e incompetência dos agentes políticos socialistas, especialmente sob Dâmocles-Sócrates com o seu reconhecido gosto mouco de perseguir e retaliar por delito de opinião, acresce a deliberada opção por gastar qualquer soma, o que for necessário, em refinada propaganda, apurada comunicação e exaustivo SIS, isto é, num conhecimento tão extensivo quanto possível do putativo ou efectivo adversário a fim de o manietar pela chantagem, castrando-lhe os movimentos. A espada de Dâmocles impende agora sobre Sócrates-Dâmocles. Mas vale a pena. É que a capacidade de efectiva chantagem política operada pelo socratismo tem sido tão eficaz que, só para dar um exemplo, converteu a figura de Cavaco na de um gatinho inerme, aflito por atravessar a rua, enquanto os carros passam rente. Em face de tudo isto, não admira que um desânimo colossal percorra a nossa sociedade desvalida, injusta, desequilibrada. Vejam os franceses. Insurgem-se caprichosamente porque são infantis, ufanos e caprichosos, na sua lenta decadência próspera. Nós, nem que nos escravizem, seviciem e vendam às postas ao mercado alimentar chinês, nos rebelaremos. Sob a anestesia de uma fervura de esbulho lento, morreremos sem esboçar protesto. Os novos judeus do século XXI são todos portugueses e vivem neste rectângulo submisso: vamos, suavemente, ao matadouro social e económico, levados pela mão de políticos debochados, afeiçoados ao crime impune, fogosos amantes de si mesmos, actores destemidos, loucos. Se nos calcam com o tacão da insensibilidade que saqueia e explora, deve estar certo.

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