AOS DESILUDIDOS PROGRAMÁTICOS

«No fundo, ninguém, em Portugal, ousará «rasgar» o que quer que seja. Este é um país cuja tradição liberal é ínfima e cuja disposição para a mudança é inerte. É isso mesmo Carlos e Pedro: não se ganham eleições em Portugal dizendo que se vai acabar com as Golden Shares ou que se vai pôr em prática um sistema de protecção social misto (publico-privado) ou que se vai privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Cairia o Carmo e a Trindade. Mais: a própria ideia de cortar a direito com o investimento público pode ser fatal. Não se trata do eleitorado ser maioritariamente de esquerda (também o é, de facto). Trata-se simplesmente de vivermos num país onde o ADN dos seus habitantes não comporta uma atmosfera de rarefacção do peso paternalista e dirigista do Estado, no qual o Estado Providencia (apesar de essencial) é uma espécie de altar onde todos vão rezar, pedir amor e protecção – porque, também é verdade, o que o Estado suga da economia e das famílias conduz a essa doentia interdependência. Esperar do programa eleitoral do PSD aquilo que ele não pode dar, dados os condicionalismos históricos, económicos e sociais, e a própria génese do seu povo, é que me parece confrangedor e potencialmente risível.» Carlos do Carmo Carapinha, 31 da Armada

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