EVIDÊNCIAS DE UMA ERRÓNEA REPÚBLICA ENVILECIDA
A República portuguesa representa hoje tudo aquilo contra o que porventura mesmo os republicanos originários mais fanáticos teriam lutado. Capitulação da soberania no seu cerne económico-financeiro por incúria de uma classe política mercenária; desmandos, delitos, latrocínios de toda a espécie nas instâncias e instituições superiores do Estado, coisa a que se chama suavemente "corrupção". De modo que quando Saramago perora sobre a República, na verdade seniliza eufemisticamente o que há a dizer sobre os seus mais devastadores efeitos. E seria fácil ao escritor a honestidade límpida de compreender isto: graças à vacuidade envilecida da República, Democracia e Regime nunca tiveram tão pouco a ver: «É evidente que a República, com a sua tosca falta de consideração pelas crenças que se confundiam com o ser e destinação de Portugal, foi o melhor aliado para quantos não haviam compreendido que a separação entre o Estado e a Igreja constituia, afinal, a libertação da esfera do religioso. É evidente que a República nos atirou para fora da Europa, nos provincializou e fechou portas às grandes correntes do pensamento ocidental. Compreende-se, pois, que só os inimigos da liberdade - à esquerda como à direita - a possam incensar, pois sem ela não medrariam. A República foi a lotaria para os messianismos desvairados e para o fim histórico de Portugal.» Miguel Castelo-Branco, Combustões
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