INDEFESOS E EM GREVE DE FOME

Estás enganado, Rodrigo. Não serão nada necessários. O pessoal já está a amochar porque fazer greve, protestar, está pela hora da morte. Em Portugal ninguém parte montras nem grita demasiado. Era preciso anos de gritaria e ficar-se-ia afónico em vão. Ninguém parte coisas. Passa é a comer pouco. Mal. Nada. Tens de meter na cabeça que, por aqui, o indefeso Povo Português, quando apertado pelos erros de políticos amantes de banqueiros e dos restantes donos de tudo, passa de imediato ao protesto mediante a greve de fome escondida e à colecção heróica de cêntimos: de esbanjadores a Tios Patinhas. E eles, esses pantomineiros sapateiros governamentalescos telepontísticos, sabem disso. Por isso mandam vir tão poucos blindados e tão tarde. Um País assim belo com um clima assim ameno não convida a gestos brutos. À fome, sim. Uma fome avinhada e com tarjas a mandá-los àquela parte e para o inferno. Esfomeados, mas repletos de estilo e elegância. Quando o PM chegava no carro eléctrico e dele saía, na última Cimeira das Cimeiras, parecia uma flor preciosa, delicada, esvoaçante como uma princesa. É o que temos para jantar, Jugulares e Abrantes: vós deste-nos glamour e lantejoulas a engolir. Os blindados apodrecerão encostados. [Eu disse protesto? Terei dito elegância? Estava a pensar nos teus protestos mediáticos como o suprassumo do protesto e do estilo e da elegância, se me permites que melgue e o faça com pleonasmos. Rodrigo, tu és o Mourinho do protesto. És o Ronaldo da finta contestatária e eu beijo-te na boca por isso como Gorbatchev beijava Honecker.]

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