AMARELA E AMARGA

«A inveja, amarela e amarga, é a planta maior do horto dos homens. Dizem que é a reacção típica infantil. Talvez seja. Se assim é, de facto, temos de concluir que boa parte da humanidade navega ainda em mares infantis. Não é raro surgirem manifestações de inveja entre irmãos de sangue. No trabalho, na oficina, nos grupos humanos, nas comunidades, na arena das lutas políticas e sindicais, no mundo dos artistas, da ciência e da profissão... A inveja puxa a cada momento do seu florete com que ataca pelas costas. Ai daquele que triunfa! Muito em breve as vespas lhe cairão em cima. Os que encantam, os que brilham, os que conseguem ser queridos que se preparem para serem crivados de picadelas.
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«A inveja existe nas relações humanas em doses mais elevadas do que em geral se crê. E digo isto porque a inveja, como se sabe, é tão feia, tão feia, que faz esforços enormes para se disfarçar. É uma espécie de víbora que busca sempre um canto para se esconder. Quanto mais feia é a sua cara, mais bonitos os disfarces que utiliza. Por outras palavras: a inveja é sumamente racionalizante, ou seja, procura «razões» para se disfarçar. Diz a inveja: aqui vos apresento cinco razões para demonstrar que fulano é um falhado. Mas as cinco razões não passam de fachada; a verdadeira razão é uma sexta, a inveja. Diz a inveja: fulano não está a sair-se tão bem como vocês dizem: não se deram conta de que lhe falta brilho nos olhos, que exagera isto, aquilo, e mais aquilo, que a sua entoação não tem o vigor exigido... Diz a inveja: fulano não serve para esse cargo: a sua pedagogia não está actualizada, o seu poder de persuasão é relativo, a sua capacidade de comunicação, medíocre; hoje, a sociedade precisa de homens com outras ideias, etc., etc.. Assim se disfarça a inveja, nunca ataca a descoberto, mas sempre encoberta das «razões». E desta maneira, sob a capa protectora de uma aparente racionalização, vegeta e engorda, dando bicadas, minimizando méritos, apagando todo o brilho.
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«Muito se sofre por causa da inveja!
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«É porque vais ou porque não vais; porque fazes ou não fazes; porque dizes ou deixas de dizer... E o poviléu, à volta, começa uma série de interpretações e suposições: veio para se encontrar com tal ou tal pessoa; não veio para não se comprometer com tal ou qual coisa; foi lá com esta intenção; disse isto, mas o que queria era dizer aquilo... e as pessoas vão projectando em ti os seus próprios mundos, o que eles fariam, as suas interpretações completamente subjectivas e gratuitas, que, com frequência, se aproximam da calúnia. E, deste modo, começa a formar-se uma imagem distorcida da tua pessoa, imagem essa que vai tomando corpo até se converter na tua caricatura. O que é injusto.» Da obra de Ignacio Larragnaga, Do Sofrimento à Paz

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