CUNHAL SOB SOARES

Estive a ver, na RTP Memória, com enorme interesse e espírito de arqueólogo, o célebre debate entre Cunhal e Soares de há 35 anos. Três horas e quarenta minutos entre Soares e Cunhal, Novembro, 1975. Respiravam-se ali vapores da guerra civil. Apertado, avultou o lado bem português de Cunhal: tenaz, amarelo, progressivamente covarde perante o espectro da violência e da morte que deseja desencadear, repleto de prosápia ideológica oposta à prática, na hora H incapaz de verter uma gota de sangue. Foi serenamente decomposto e descomposto por um Soares que denunciou então a penetração pelos comunistas do Aparelho de Estado, as armas, as milícias, todas os entraves e boicotes ao Estado e à Democracia que vinham nos manuais comunistas. Esse debate trocou uma quase certa guerra civil por três horas de bocejo. Mau negócio, talvez. Hoje Soares, errática e coruscante aparadeira de Sócrates, simboliza, com Almeida Santos, o apadrinhamento esmagador do socialismo clientelar, a profusão de esquemas hegemónicos no Aparelho de Estado, a decrepitude maçónica da verdade em favor do interesse, do amiguismo, da protecção incondicional de cretinos. Uma lástima.

Comments

Gustavo A.B. said…
Lapidar, magnífica, exemplar observação.
Obrigado!...

Muitas saudações

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