ESTADO ERRÓNEO E DISSIPADOR

As pobres não tratam dos dentes. As pobres não compram nas lojas. Só nas feiras. As pobres entopem as urgências. As pobres às vezes são gordas e quase sempre gostam de atafulhar a Loja do Cidadão. As pobres requisitam a pílula no Centro de Saúde e não gostam de farmácias que lhes fazem confusão. As ricas abortam muitas vezes, esquecem-se de tomar. As ricas vão às farmácias e compram a do dia seguinte, a do dia a dia, compram adelgaçantes, experimentam pomadas, atiram-se a unguentos, investem em escovas assépticas, geringonças, dietas. Os pais das ricas fogem aos impostos. As pobres são magras, esquálidas, secas, feias, dizem «Foda-se!» e a foda acontece com menos de quatrocentos euros a lavar, passar e a engomar na cada da doutora ou no olho da rua, fábrica fechada, tudo por pagar. Sou pela comparticipação do Estado nas despesas de quem não pode. Sou contra esta espécie de universalidade míope comparticipativa que une na assistência o que está separado em poder de compra à nascença e à morrença. Não às hesitações! Faça-se justiça social e separe-se o que já está separado abissalmente. Não à justiça salomónica! Não seja o medo a mover ministros. Viva Paulo Macedo! Abaixo a pílula barata da quiduxa fofa, da Tita, da Naná e da Teté.   

Comments

Anonymous said…
Ministro nega decisão sobre descomparticipação...
Esta palavra (palavrão) que aparece em alguns jornais "on-line", existe?
joshua said…
Acho que não e além disso é feia. Bem preferível a perífrase: fim da comparticipação.
Nuno Oliveira said…
Confesso que no meio de tanta ironia (ou sarcasmo?) fico sem saber a sua real opinião..
Acredita mesmo que:
"As pobres requisitam a pílula no Centro de Saúde e não gostam de farmácias que lhes fazem confusão"?
O mundo, pelo menos para mim, não é só preto e branco. Há inúmeras tonalidades de cinzento.
joshua said…
Certo, Nuno. Foi precisamente o cinzento que eu quis ressaltar. O meu registo é hiperbólico, mas entendo que o Estado deverá recuar do seu excessivo paternalismo.

E nem se trata de Portugal necessitar de um fortíssimo estímulo natalista. Há milhentos recursos anticoncepcionais e cada caso é um caso. Parabéns ao Bacalhau Com Natas e Viva a Trofa!

Para o ano quer ver o trofense na Primeira Liga.
Nuno Oliveira said…
Obrigado.
Veremos se os leitores gostam da receita... Se não gostarem... azar!
Quanto ao trofense, não acredito muito que seja possível, pelo menos para já. Mas quem sabe?
Abraço.
George Sand said…
Uma temática complicada a da pobreza e da natalidade...assim como a da participação estatatal.
E até que ponto é que se participa, comparticipa e torna a participar. Falo por exemplo de mulheres que recorrem sistemáticamente a métodos que hoje estão consagrados na lei. E o estado volta a comparticipar. E elas voltam a abortar. E o estado volta a comparticipar. Mas se isso ão acontece: o destino desses meninos é complicado: a rua, as avós, a adopção...

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