FMI E UMA COISA CHAMADA SOFRIMENTO

Podem achar que não, mas a agonia grega é inspiradora havendo nela um quê de injustiça trágica que nos pica e instiga a fugir de vergonhas equivalentes, pois não são fatais. Há algo ali, como a deficiente administração fiscal, por exemplo, que não deve ter tido um Paulo Macedo reformador a tempo e horas. Se o fisco não funciona na Grécia, a Europa de Sarkozy, Merkel e Cameron, mostra-se completa e miseravelmente medíocre. Todos juntos são geopoliticamente toscos. Um de cada vez economicamente desconhavados. Todos somados e subtraídos traem qualquer conta. É aí que entra Durão Barroso: nunca um títere o foi tão espantosamente nulo e patético. O FMI, desencarnado e irrealista, insiste para Portugal na redução da TSU e não há quem lhe bata o pé e galgue terreno a falar grosso. Nada mais estúpido. Seria aqui que a Europa, se existisse e valesse a pena, entraria e unificaria vontades e políticas de todos, como todos e para todos. Mas não. Assim como as gentes gregas, anda o povo português já em sofrimento, pronto para o pior, pronto para a sopa dia após dia em vez de refeições decentes, pronto para meses e meses com os trocos da sobrevivência nos bolsos, pronto a adiar os dentes e acabar por perdê-los, prontos a sufocar, passentos, como cordeiros sacrificiais nos corredores terceiro-mundistas das urgências ineficazes e africanas dos hospitais, prontos a ficarem mal servidos em todos os domínios essenciais, após descontarem toda uma vida. Enfim, anda este Povo néscio, enquanto o carnaval e o marfim correm à fartazana, a foder-se e a padecer para não haver quem efectivamente pense nele e o salve e o levante?! Quem assumirá um discurso não-amedrontado, não-submetido, não-capitulado e que introduza um sentido de justiça e de proporção às obscenidades e excessos de certos técnicos menores do FMI?! Ninguém. É o chamado sofrimento. Veio para ficar. E vai ficar.