O ALERGÉNICO EFEITO DIAS LOUREIRO

Tenho andado a consumir, consumido, este documentário de pornografia nacional pura e dura. Faço-o lentamente em desgostosa degustação magoada. mas é especialmente ao deparar-me com o depoimento de Dias Loureiro, célebre na fácies de insana infelicidade por ter abarbatado não poucos milhões à canzana sobre a Lei, um «trabalho insano, porque é insano, sabe?», que me acontece ficar todo do avesso e passar-me completamente dos cornos cívicos. É o efeito alergológico Dias Loureiro. Deve ser inveja, sei lá. Penalizo-me de reagir assim, a quente e a frio, com os nossos azeiteiros da política, todos eles tão iguais, nada frugais, mas sucessivos, friso habilidoso de vampiros que perderam contacto com o mundo real, este, nosso, e lá vivem nesse planeta que nada tem a ver com o nosso empobrecimento inexorável e conformação à estupidez de a aceitar. O que nos aparece nesse documentário é um Dias Loureiro acabrunhado, coitado, triste e infeliz, de voz arrastada e olhos baixos, entaramelando o discurso como se em trânsito por um luto insano. Perante a dor que exala, como me atrevo eu a andar sereno e sorridente, cumprimentando toda a gente nas ruas e nos recantos da Escola todos os dias, logo neste momento, novamente nas vascas do meu renovado desemprego?! Então posso eu alguma vez andar em paz mesmo há largos dias sem um cêntimo no bolso que não seja emprestado?! Sou certamente uma besta incapaz de ganir infelicidade e pesar como Dias Loureiro, tão infeliz e melancólico. Desavergonhadamente, eu rio, apesar de a minha conta bancária se mostrar, mês após mês, um cemitério negativo, faça o que fizer, corra e salte como saltar e como correr. Eu é que deveria andar todo fodido, com uma cabeça descomunal, apenas por continuar abaixo de cão, sucessivamente admitido e sucessivamente chutado e enxotado do Ensino, todos os anos, desde há dezasseis. Não tu, Dias Loureiro, famigerado ex-ministro. Não é justo que sejas tu a ostentar a cara mais pesarosa e o ar mais fúnebre do Cosmos a propósito da «insanidade» que custam os vestidos da tua mulher em bailes e jantares oficiais?! «Lá se vai o ordenado todo», lamentas. Não vês que com todo esse sofrimento, um homem como eu se perde?! Não percebes que perante a tua dor sincera como um flato, um homem como eu se encafuará nas tascas, enfronhar-se-á na mais enfadonha loucura, atirar-se-á da ponte e acabará os seus dias a enrabar debalde inocentes caixas multibanco?!

Comments

Anonymous said…
Joshua,

Leio com satisfação tudo o que escreve, umas vezes identifico-me até com "as imagens" que nos traz com as suas "frases ácidas".
Não sei se acredita mas mesmo assim: DEUS o ajude e DEus nos ajude a manter essa suas frases e a nossa indignação resultante desta pronografia do caracter- Já não há honra.
Bmonteiro said…
Caro Rex
Quando começou o programa SIC, saí da sala de TV, para não me ver a engolir o pornográfico filme.
A desfaçatez dos socialistas/sociais-democratas em auto justificarem os seus elevados merecimentos para assim ser pagos, não me deixa esquecer outra questão.
Eram eles já assim tão bons no governo, para o país ter chegado ao estado a que chegou? Para terem deixado isto cheio de merda?
Esta pesada herança, resulta das suas altas competências?
Um deles, o proxeneta Mexia (o da filha da putice sobre um colega engenheiro na Galp, já falecido): «o que a EDP lhe paga, não se repercute nas facturas de electricidade».
Como me dizia há dias um coronel engenheiro reformado, creio que sem qq tendência de esquerda política: tratar de votar no PCP.
Ou como eu dizia, na última feira do livro, ao autor de uma crónica exemplar sobre Eanes, Fernando Dacosta, no lançamento de um livro de um antigo cabo pára-quedista:
Pois, eles que vão gozando, um dia destes, numa qq manifestação no Marquês de Pombal, pode ser que um popular aponte para a Bastilha, apontando eu para um emblemático edifício da praça. Pode ser...
O intelectual Da Costa, parece-me sorrir com ar de entendimento.
Cumpts

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