EUROS E KWANZAS

«Se queremos convencer a chanceler alemã da necessidade de corrigir um caminho que está esgotado e já produziu os melhores resultados que pode produzir, num ajustamento rápido que, a partir de agora, só pode voltar a levar-nos ao precipício, se esperamos que Merkel aceite os alertas que há semanas vão sendo feitos pelo FMI, este é o momento adequado. Se queremos convencer a Alemanha de que merecemos uma nova oportunidade nos fundos comunitários, depois de milhares de milhões recebidos e que acabaram numa intervenção externa, este é o momento. Não foi a chanceler alemã - ou a BMW e a Siemens, como se depreende do vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa que poderia ter sido subscrito por Francisco Louçã - que nos trouxe até aqui. A responsabilidade de Merkel é outra, é a de demorar a tirar a Europa e a zona euro da crise em que está mergulhada desde meados de 2008. A chanceler tem, apesar de tudo, cedido à realidade para segurar uma moeda única que é também um factor que explica o sucesso alemão. Portugal precisa da Alemanha, como precisa de Angola, porque somos europeus e ‘atlânticos', por justaposição e não por contraposição. Mas, num caso e noutro, sem perder uma soberania que já teve melhores dias, sem vender a dignidade por euros e kuanzas, sem hipotecar a história. Ora, a reacção do Jornal de Angola a uma notícia do Expresso sobre a abertura de inquérito por parte da Procuradoria-Geral da República a três altas figuras angolanas, nomeadamente ao vice-presidente Manuel Vicente, é, no mínimo, um alerta. No máximo, uma ameaça intolerável.» António Costa

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