11/9 — PASMO E AVILTAMENTO

Lembro-me que vi em directo o segundo embate. Por alguma razão eu andava muito feliz e bastante eufórico nessa altura, era um dia tão bonito, ensolarado, perfumado. Na confeitaria, já vazia, varria-se, perpetrava-se a faxina, após uma manhã movimentada. Sei que segurava uma esfregona. De repente, estaquei defronte à televisão, incrédulo, mas ciente de um ataque terrorista. A imagem estática da primeira torre agonizando, fumegando desesperadamente. No directo, jornalista-locutor aventava hipóteses, completamente a leste. No meu espírito, a certeza de um acto deliberado. De repente, surge o segundo avião. Embate. Desenovela-se aquela bola suja de fogo e cinza. E a angústia sobrepôs-se-me a tudo misturada a um pasmo, sensação de aviltamento, ainda hoje vivos. Para sempre vivos. 

Comments

Dylan said…
Dez anos depois, os Estados Unidos e o Mundo não recuperaram do bárbaro ataque a Nova Iorque e a Washington, aliás, jamais recuperarão. Aquela manhã sangrenta de Setembro trouxe o que de pior existe no ser humano: o desrespeito pela vida, o ódio, a vingança, o fanatismo religioso e o ressentimento. As feridas abertas pelos milhares de vidas ceifadas é de difícil cicatrização, o vazio sentimental projectado no desaparecimento das torres do World Trade Center é impossível de preencher. Com elas, ruíram as esperanças de alguma vez vivermos em segurança, mas levantou-se a união de um povo, o seu orgulho exemplar, a comunhão de sofrimento, a crença de que se consegue derrotar o mal e todas as teorias de conspiração associadas porque amanhã é um novo dia.

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