11/9 — PASMO E AVILTAMENTO
Lembro-me que vi em directo o segundo embate. Por alguma razão eu andava muito feliz e bastante eufórico nessa altura, era um dia tão bonito, ensolarado, perfumado. Na confeitaria, já vazia, varria-se, perpetrava-se a faxina, após uma manhã movimentada. Sei que segurava uma esfregona. De repente, estaquei defronte à televisão, incrédulo, mas ciente de um ataque terrorista. A imagem estática da primeira torre agonizando, fumegando desesperadamente. No directo, jornalista-locutor aventava hipóteses, completamente a leste. No meu espírito, a certeza de um acto deliberado. De repente, surge o segundo avião. Embate. Desenovela-se aquela bola suja de fogo e cinza. E a angústia sobrepôs-se-me a tudo misturada a um pasmo, sensação de aviltamento, ainda hoje vivos. Para sempre vivos.
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